segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Profetas da chuva fazem primeiro encontro em Quixadá

Prever o inverno se valendo apenas da observação dos fenômenos da natureza é uma proeza. Essa tem sido a marca de profetas e profetisas da chuva de Quixadá, Município do Sertão Central do Estado. Em meio à seca que castiga o Ceará já há cinco anos seguidos, eles desafiam a ciência para descobrir se vai ou não chover apenas pelo crescimento de determinada planta até a forma como o vento chega no início da noite. Ontem, no Centro Cultural Rachel de Queiroz, alguns dos mais antigos profetas fizeram um balanço de suas previsões e falaram da expectativa do próximo encontro, marcado para no início do ano que vem. O encontro foi organizado pela equipe que realiza a nona edição do Encanta Quixadá, evento que se encerrou ontem. Os profetas se reuniram no início da manhã em um café servido a amigos e estudiosos da cultura popular. Empolgados, eles falavam das previsões que já haviam feito em anos anteriores. "Esse pessoal da tecnologia só faz previsão para dizer se vai encher açude. Mas a gente faz previsão para dizer se vai ter pasto, se vai dar feijão, se vai encher o açude particular", explica Josué Viana, 67, e participante do encontro há 12 anos. Ele rebate o posicionamento de cientistas de que o inverno foi ruim. "O inverno não foi ruim de todo, não. Deu pra aproveitar alguma coisa". Em 2017, o evento dos profetas da chuva chega a sua 21ª edição. Nos últimos anos, não houve um consenso entre os profetas sobre os invernos que se seguiram. Muitos opinaram que o inverno seria bom, e acabaram tendo que aceitar em meio ao mato seco e a reservatórios em volume morto, que as previsões que fizeram não condiziam com a realidade. Ainda também é cedo para tentar dar a certeza de algo. Mas para alguns, já há o que se comemorar. "Vamos ter um inverno bom para o ano", é o que afirma Maria de Lourdes Lemos, 79. Ela garante ser a única mulher entre os profetas cearenses e diz que 2017 será um ano de terra molhada. Mas ela pondera: "Isso é apenas uma previsão, meu filho. Muita coisa pode mudar. Meu pai era um analfabeto, mas era muito sábio. Ele dizia que, quando chegasse o tempo em que o homem quisesse saber mais do que Deus, ele mudava os tempos". A Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme) só divulga o prognóstico das chuvas de fevereiro a maio no início de cada ano, mas a chegada do La Niña tem contribuído para deixar agricultores e a população ainda mais otimistas. O fenômeno é oposto ao El Niño: ao invés de provocar a seca pode contribuir para ocasionar chuvas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário