A investigação aponta que os servidores públicos utilizaram,
no crime, viatura descaracterizada e armamento pesado da Polícia Militar do
Ceará
A Polícia Civil do Ceará (PCCE) indiciou e pediu pela prisão preventiva
de quatro policiais militares, suspeitos de matar cinco homens, no episódio que
ficou conhecido como Chacina de Quiterianópolis, ocorrida em outubro do ano
passado. A investigação aponta que os servidores públicos utilizaram, no crime,
viatura descaracterizada e armamento pesado da Polícia Militar do Ceará (PMCE).
O relatório final de investigação foi enviado pelo Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) à Justiça Estadual, na última terça-feira
(02). Foram indiciados o tenente Charles
Jones Lemos Júnior, o sargento Cícero Araújo Veras, o cabo Francisco Fabrício
Paiva e o soldado Dian Carlos Pontes Carvalho, pertencentes aos quadros do
Comando Tático Rural (Cotar).
A investigação foi realizada por uma comissão composta pelo DHPP, pelas
delegacias Municipal de Quiterianópolis e Regional de Tauá e pelos
Departamentos de Polícia Judiciária do Interior Sul (DPJI Sul) e de Inteligência
Policial (DIP).
Conforme o relatório policial, Charles, Fabrício e Dian estavam em
serviço e utilizavam uma viatura descaracterizada modelo Chevrolet Trailblazer
de cor preta, que teria dado apoio à ação criminosa. Depois, Charles e Fabrício
teriam passado para um veículo Fiat Mobi de cor cinza, junto do sargento Cícero
e de outro homem, ainda não identificado.
Então, os quatro homens que estavam no Mobi teriam chegado a uma
residência onde acontecia uma comemoração, selecionado as vítimas e executado a
tiros José Reinaque Rodrigues de Andrade, de 31 anos, Irineu Simão do
Nascimento, 25, Etivaldo Silva Gomes, 23, Antônio Leonardo Oliveira Silva, 19, e
Gionnar Coelho Loiola, 31, no Município de Quiterianópolis, na tarde de 18 de
outubro último. Um adolescente também foi baleado na casa, mas sobreviveu.
Três PMs estavam em serviço e utilizavam uma viatura descaracterizada
modelo Chevrolet Trailblazer de cor preta, que teria dado apoio à ação
criminosa
Provas do crime - O relatório traz que Fabrício foi reconhecido
por testemunhas. Enquanto uma munição apreendida na cena do crime, calibre 556,
pertencia ao fuzil da Polícia Militar que estava sob tutela do tenente Charles,
segundo informações repassadas pela própria Corporação e laudo pericial
elaborado pela Perícia Forense do Ceará (Pefoce). As munições encontradas no
local ainda eram de propriedade da Academia Estadual de Segurança Pública do
Ceará (Aesp) e pertenciam a lotes que estavam a disposição para cursos
oferecidos na Instituição, que tiveram como instrutores justamente os
investigados, no ano de 2019.
Em depoimento, Charles, Fabrício e Dian (presos temporariamente em 15
de dezembro de 2020) alegaram que estavam em Quiterianópolis para procurar por
um tio e um sobrinho envolvidos com o tráfico de drogas e com agiotagem e, por
isso, realizaram várias diligências no Município, durante dias seguidos.
Entretanto, os policiais não teriam encontrado os alvos.
Mas teriam se deparado com um familiar desses dois suspeitos, segundo a
investigação: uma das vítimas e proprietário da residência onde aconteceu a
carnificina, José Reinaque era sobrinho e irmão dos homens procurados pelos
PMs. Ele tinha passagem pela Polícia por roubo e estaria promovendo uma
comemoração pela retirada de uma tornozeleira eletrônica utilizada pelo Sistema
de Justiça do Estado para monitorá-lo.
Um dos informantes da composição policial era justamente o sargento
Cícero, que, mesmo de folga, estaria trafegando na viatura descaracterizada
junto dos colegas, o que fez a Polícia Civil deduzir que ele também participou
da Chacina.
Outro fato que aumentou as suspeitas sobre os policiais militares foi
que todos trocaram de aparelho celular depois da matança e se desfizeram dos
antigos. A Polícia Civil acredita que eles tenham feito isso para ocultar
ligações com o crime.
Motivação da Chacina - A motivação da Chacina, entretanto, ainda é
desconhecida pela Polícia Civil, assim como a identificação do quinto homem,
motivos que fizeram o DHPP pedir à Justiça Estadual mais tempo para investigar
o caso.
A Polícia trabalhou com duas linhas de investigação, ambas ligadas aos
históricos criminais de duas vítimas, José Reinaque e Irineu Simão, que tinham
passagens pela Polícia por roubo e ainda estariam na vida criminosa. Já as
outras vítimas não tinham antecedentes criminais e nem há a suspeita de ligação
com crimes.
As suspeitas eram de que Reinaque e Irineu estariam envolvidos em um
roubo à residência de um prefeito de um município próximo ou a um assalto a um
comércio de Quiterianópolis, o que poderia motivar retaliação contra eles.
Porém, as investigações desses crimes não apontaram para a participação da
dupla e o monitoramento feito por tornozeleira eletrônica em Reinaque também
negou a presença dele em ambos os casos.
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