
A poucos quilômetros do litoral da Flórida, tudo o que o
brasileiro Osvaldo Almeida vê pela janela são grades e arames farpados. Foi em
uma sala da prisão da cidade de Century que ele falou com a equipe do Fantástico,
depois de um mês de negociações com as autoridades. “Já paguei”, ele afirma. O
brasileiro tem 41 anos e está preso há 21. Ele foi condenado à pena de morte
depois de cometer três assassinatos, todos na região de Fort Lauderdale, perto
de Miami, nos anos 1990. Uma história que o fantástico mostrou 18 anos atrás. Em
outubro de 1993, ele matou a prostituta Marilyn Leath. Uma semana depois,
assassinou com tiros outra prostituta, Chequita Kahn. A última vítima foi Frank
Ingargiola, gerente de um bar que se negou a vender bebida para Osvaldo.
Fantástico: Por que você cometeu esses crimes?
Osvaldo: Eu era uma pessoa muito diferente nessa época, eu
não tinha Deus na minha vida. É realmente difícil explicar isso. Até eu mesmo
não entendo.
Fantástico: Você se arrepende?
Osvaldo: Sim.
O arrependimento não sensibilizou a Justiça americana nem a
família das vítimas. Na época, a viúva do gerente disse que, sim, Osvaldo
merecia a pena de morte. Nem ele discordava. “Eu mereço a pena de morte pelos
meus crimes”, disse, à época.
De lá para cá, muita coisa mudou. Osvaldo foi transferido de
prisão várias vezes, já não usa o uniforme laranja dos condenados à morte. É
que ele recorreu da sentença e conseguiu o que parecia impossível: reverter a
pena para prisão perpétua.
Fantástico: Naquela época, foi como uma vitória para você?
Osvaldo: É o que eu pensei naquela época.
Na decisão que mudou a sentença, o juiz disse que a polícia
cometeu erros que podem ter influenciado no julgamento. Escapar da execução é o
sonho de 3.019 detentos que hoje esperam no corredor da morte nos Estados
Unidos. Mas 15 anos depois de apelar e sair da lista de condenados à morte,
Osvaldo se arrependeu. “Eu pensei que a prisão ia ser melhor, vida é melhor que
morte, mas eu não sabia como ia ser a vida na prisão. Não tem nada para fazer.
Aqui é exercício, assistir televisão e ler”, ele diz.
Fantástico: Entre ser morto e passar o resto da vida na
prisão, o que você prefere?
Osvaldo: Ser morto, ser executado.
A defensora pública Katherine Puzoni, que tem clientes no
corredor da morte, diz que nunca ouviu um caso como o de Osvaldo. Ela acha que
não é legalmente possível a Justiça fazer o que o brasileiro quer.
No máximo, ele pode apelar à Suprema Corte federal pela
liberdade e pedir clemência ao governador, mas a defensora pública diz que é
muito difícil o brasileiro acabar sendo solto.
Osvaldo teve uma vida confusa. Nasceu em Boston, filho de
uma brasileira e de um português. Aos 5 anos, depois que os pais se separaram,
foi morar no Recife com o pai. Aos 12, voltou para os Estados Unidos, levado
pela mãe, e virou cozinheiro.
Em entrevista ao Fantástico, em 1997, Severina Gamboa tentou
explicar assim os crimes cometidos pelo filho: “Ele foi abusado sexualmente
pelo irmão da madrasta”.
Hoje, a cabeleireira aposentada mora perto de Orlando. Ela
só quis dar entrevista por telefone.
Fantástico: A senhora acha que algum dia ele pode conseguir
a liberdade?
Severina: Meu filho, só se Deus fizer um milagre.
Fantástico: Ele disse que prefere morrer a passar o resto da
vida na cadeia. A senhora, como mãe, o que acha disso?
Severina: Eu ainda não disse a ele que concordo, mas no
fundo, no fundo do meu coração, eu concordo, porque eu não quero ver ele nesse
sofrimento.
Dezoito anos atrás, Osvaldo teria sido executado na cadeira
elétrica. Hoje em dia, nos 32 estados americanos que têm a pena de morte, o
método mais comum é a injeção letal.
“Eu sou humano, acho que eu ia sentir um pouquinho de medo
disso, eu prefiro sofrer temporariamente uma dor física sabendo que vou estar
com Deus, no céu”, diz Osvaldo.
Mesmo tendo matado três pessoas? “Sim, porque eu não sou
mais essa pessoa no meu coração”, ele afirma.
Hoje, Osvaldo tem todo o tempo do mundo. E, para ele, o
tempo é o maior inimigo.
Fantástico: Você consegue se imaginar daqui a 10,20,30 anos
ou você prefere não pensar?
Osvaldo: Eu prefiro não pensar.
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