Leandro Souza morreu
na Favela do Moinho
Uma testemunha ouvida pela
Polícia Civil disse que os agentes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar
(Rota) que mataram Leandro de Souza Santos, de 18 anos, durante uma operação na
favela do Moinho, na última terça-feira (27), ficaram a sós com o rapaz por
mais de uma hora dentro de um dos barracos da comunidade.
A testemunha é dona do barraco em
questão. De acordo com ela, que pediu para não ter o nome revelado, os
policiais entraram no local atrás de Leandro e só saíram de lá depois de
"quase uma hora e meia", com o suspeito desacordado. Ele foi retirado
em uma maca e levado até a Santa Casa, mas, segundo o hospital, já estava morto
quando chegou.
A testemunha revelou que estava
em frente, mas fora de casa no momento em que Leandro e os policiais que o
perseguiam entraram correndo. "Foi coisa de segundo, só senti o
vento". Ela e o marido notaram a invasão, mas foram impedidos de verificar
o que acontecia no próprio barraco.
A mulher contou que tentou ao
menos duas vezes acessar o local, mas não conseguiu convencer os agentes que
guardavam a entrada. "Já tinham entrado cinco policiais lá para dentro e
eles não deixaram eu entrar".
Sem sucesso, a testemunha disse
que aguardou do lado de fora. Enquanto esperava, relatou que uma atitude dos
policiais lhe chamou a atenção: "Aumentaram o volume do som". Com a
música alta e o barulho do helicóptero que sobrevoava a área durante a
operação, ela diz que passou a "não ouvir nada" do que ocorria dentro
do barraco.
De acordo com a mulher, quando
enfim os policiais saíram, não falaram nada. Segundo ela, só depois que o corpo
de Leandro foi retirado é que pôde retornar a casa. "Olhei o chão e tava
cheio de sangue. Espirrado no fogão, na geladeira, até no armário que tava meio
afastado."
Logo que entrou no barraco, a
testemunha disse que foi convocada pelos policiais da Rota para acompanhá-los
até a delegacia, onde prestaria depoimento sobre o caso. "Eu não queria ir
sozinha, mas eles falaram que tinha que ser sozinha. Nem minha irmã deixaram eu
levar".
A testemunha revela, então, que
foi posicionada no banco de trás de uma viatura, entre dois policiais, e seguiu
em direção ao distrito policial. Ou aos distritos policiais, já que, segundo
ela, o carro passou primeiro no 77º DP, na Santa Cecília, e depois no 23º, em
Perdizes, antes de chegar ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP), onde o depoimento foi prestado.
Durante o caminho e as paradas
até a sede do DHPP, a mulher diz que foi interpelada diversas vezes sobre o que
tinha visto ou ouvido acontecer no barraco. Ela conta que se sentiu pressionada
pelos agentes. "Se eu tivesse dito que ouvi tiro ou o menino gemendo,
essas coisas, acho que eles tinham acabado comigo por ali mesmo. Foi o que eu
imaginei ali na hora que eu tava sozinha. Estava só eu e tinha quatro
[policiais]".
O depoimento à Polícia Civil
levou mais de uma hora, estima a testemunha. Depois, ela afirma que ainda foi
levada ao batalhão da Rota, na Avenida Tiradentes, onde teve de contar a
história novamente, em mais um depoimento oficial. Em nenhum dos
interrogatórios disse ter mencionado a suposta coerção praticada pelos
policiais militares.
Martelo encontrado no
local onde morreu Leandro de Souza Santos, 18 anos, na Favela do Moinho
Na quarta-feira (28), em nota
enviada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), a Polícia Militar informa
que "todos os fatos que ocorreram na operação realizada pela Rota"
estão sendo "investigados em Inquérito Policial Militar". "O
DHPP também instaurou IP [inquérito policial] e vai investigar a morte que
ocorreu durante a intervenção dos policiais militares."
Os PMs disseram que Leandro se
recusou a ser abordado e fugiu para "uma habitação, tirando os moradores
que lá estavam e passando a atirar contra os policiais, que reagiram". A
nota diz, ainda, que "duas pessoas foram presas na operação. Uma delas foi
flagrada com uma motocicleta furtada e a outra com entorpecentes e um celular
roubado".
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