Casa ao lado do
"Forró do Gago", onde aconteceu a maior chacina do Ceará, foi
anunciada à venda após o massacre
O menino de 12 anos que
sobreviveu à maior chacina do Ceará, no clube "Forró do Gago", no
Bairro Cajazeiras, se fingiu de morto ao levar o primeiro tiro na coxa. Outra
criança que ajudava o pai na venda de lanches foi baleada e ameaçada, segundo
relato de uma moradora da comunidade. A testemunha também contou que outros
sobreviventes, entre eles mulheres grávidas, pularam muros e se esconderam
embaixo do palco para escapar dos atiradores.
Nesta segunda-feira (29), alguns
comércios ficaram fechados, casas vizinhas anunciando a venda dos imóveis e
moradores que preferiam ficar dentro das casas; alguns relataram medo.
A família do menino de 12 anos
sobrevivente do caso, filho do vendedor de cachorro-quente conhecido como
Marrom, morto no local, já foi embora do bairro.
Uma pessoa foi achada
morta dentro de um veículo estacionado no local da chacina
14 mortes - A chacina ocorreu na
madrugada do último sábado (27), quando criminosos, supostamente integrantes de
uma facção, chegaram ao clube atirando. Ao todo, 14 pessoas foram mortas. A
maioria mulheres. O caso é tratado como a maior chacina do Ceará.
Uma moradora da comunidade que
não quis ser identificada afirmou que o grupo autor do crime pertence a uma
facção, e chegou ao local dividido em três carros e duas motos. Entre eles
havia mulheres, e todos tinham os rostos cobertos, usavam roupas pretas,
coletes e armamento pesado, incluindo fuzis.
'Atirando pra tudo quanto era
lado' - "Não citaram nome de ninguém, foram atirando pra tudo quanto era
lado, sem querer saber se era criança que tava na calçada, foi total terror.
Até as crianças foram ameaçadas por eles. Não foi só no Forró do Gago que eles
chegaram amedrontando todo mundo, foi no bairro todo, andaram rua por rua atirando
sem rumo", conta a mulher.
Conforme o relato da testemunha,
uma criança sobrevivente foi baleada e ameaçada pelos criminosos. "A
criança no chão, eles disseram assim: 'tu só não vai ser morto porque as balas
acabaram'. Isso é coisa que se faça".
Familiares dela estavam na festa
e sobreviveram. "Tinha gente se escondendo debaixo do solo do palco, entre
as caixas de som, no banheiro. Eles se esconderam em todo canto que podiam".
"Forró do
Gago", no Bairro Cajazeiras, em Fortaleza
A testemunha diz ainda que vive
no local desde que nasceu e nunca tinha presenciado situação parecida.
"Nunca tinha visto nada igual. Ainda vem dizer que não é pra gente ficar
amedrontado, com trauma. Como a gente não vai ficar, se a gente tem filho, tem
mãe, pai, irmão, que não são envolvidos, são cidadãos", diz a moradora da
comunidade, referindo-se à declaração dada pelo secretário de Segurança do
Ceará, André Costa, no dia do massacre, alegando que "não há motivo para
pânico e temor".
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