Os narcotraficantes
de várias facções escolheram o Ceará lavar e gastar o dinheiro sujo do crime
Mergulhada numa crise sem
precedentes, a Segurança Pública do Ceará apresenta agora desdobramentos que
nem mesmo os especialistas no assunto previam: o Estado se tornou uma espécie
de “embaixada” do crime organizado no País, lugar onde aportam os chefões das
facções que dominam o tráfico de drogas no País e fora dele, além do controle
do Sistema Penitenciário. O Ceará se
tornou um verdadeiro “paraíso” para os “cabeças” do tráfico gastar o dinheiro
sujo de seus crimes. Aqui, o aparato policial e de Inteligência não os
alcançam.
Ainda em março de 2016, a Polícia
Federal prendeu sigilosamente, em Fortaleza, Alejandro Juvenal Herbas Camacho,
o “Júnior”, irmão de Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”. Ele transitava
entre Fortaleza, São Paulo e diversos outros estados, do Sudeste e do
Centro-Oeste, gerenciado os negócios do irmão, ou seja, o tráfico de cocaína,
armas e munições. Com a prisão de
“Júnior”, outros representantes da facção vieram para o Ceará continuar no
gerenciamento do tráfico. O negócio não poderia parar. Foi quando bandidos
usando identidade falsa aqui se apresentaram com o perfil de grandes
empresários e se entranharam em diversos ramos da economia local, chegando,
alguns, a ingressar nas rodas da alta sociedade.
Os negócios escolhidos foram
diversos: desde revendedoras de veículos importados a empresas de eventos,
casas de shows e afins. “Júnior” ou “Alejandro” abriu a porta e outros
apareceram. O Ceará, então, se tornou
uma espécie de “grande lavanderia”, onde negócios de fachada eram montados para
disfarçar a milionária arrecadação do tráfico de drogas. Cocaína produzida nos
países vizinhos ao Brasil, como Colômbia, Bolívia e Peru, passavam
necessariamente por Fortaleza antes de atravessar o Atlântico nos voos
internacionais e chegar aos países importadores, como Holanda e África do Sul.
E foi assim que os grandes
traficantes se estabeleceram no Ceará. Com “Júnior” atrás das grades junto com
o irmão “Marcola”, foram despachados pelo PCC para Fortaleza bandidos como o
mineiro Claudiney Rodrigues de Sousa, o “Cláudio Boy”, que, até então, chefiava
uma quadrilha de traficantes medianos na Grande Belo Horizonte. Aqui, ele
cresceu e começou a dominar o mercado da cocaína de sua facção, ao mesmo tempo
em que ganhava espaço como “empresário” no meio social, se tornando
frequentador de rodas de empreendedores do ramo de barracas de praia,
restaurantes de luxo, boates, casas de shows e artistas de forró.
Neste contexto, chegaram também
ao Ceará os traficantes Rogério Jeremias de Simone, o “Gegê do Mangue”; e
Fabiano Alves de Sousa, o “Paca”, todos do alto comando do PCC, e que acabaram
sendo eliminados por ordem da própria cúpula da facção. Motivo: o desvio e a
gastança de dinheiro em proveito pessoal, quebrando as rígidas normas e
disciplina da facção.
Outros grupos - Outras facções também despacharam para o
Ceará seus “chefões”, como foi o caso da organização criminosa Família do Norte
( FDN), que enviou para Fortaleza o narcotraficante Vainer de Matos Magalhães,
que teria a missão de tomar das mãos do PCC e do Comando Vermelho (CV) o
domínio do tráfico na zona nobre da Capital, a partir da Praia do Futuro até
chegar ao Porto das Dunas, em Aquiraz.
Não deu certo, nem deixaram.
Na tarde de 20 de abril de 2017,
Vainer Magalhães, o “Vainer Pepê”, foi executado com cerca de 40 tiros de fuzil
dentro de sua caminhoneta importada em plena Praia do Futuro.
Em lugar de Vainer, assumiu o
comando da FDN e de seus negócios da droga na Capital cearense um jovem que era
a promessa da organização criminosa: Petrus William Brandão Freire. Mas, tal e qual “Gegê do Mangue” e “Paca”,
Petrus começou a esbanjar ostentação. Resultado, na madrugada do dia 24 de
janeiro foi morto, também com cerca de 40 tiros, quando encerrava uma noite de
balada numa barraca na Praia do Futuro.
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