quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Mesmo distante, Gegê do Mangue exercia poder sobre Vila Madalena

Moradores da Vila Madalena temem consequências da morte de Gegê do Mangue
Moradores da Vila Madalena temem consequências da morte de Gegê do Mangue

Cinco dias após a morte do mais poderoso integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em liberdade, Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, moradores e comerciantes da Vila Madalena, bairro boêmio onde viveu o criminoso, temem que a criminalidade e a violência aumente na região. Ele foi encontrado morto em uma suposta emboscada em uma reserva indígena de Aquiraz, no Ceará.
Para um comerciante que trabalha no local há mais de 40 anos, que preferiu não se identificar, mesmo após ter deixado de viver no bairro, Gegê do Mangue oferecia certa segurança e exercia controle sobre a região. “Enquanto ele era vivo, tínhamos tranquilidade, agora não sabemos mais como vai ser”.
Embora o PCC seja conhecido por ocupar atualmente o posto de maior organização criminosa do país, moradores afirmam que temem conflitos com membros da facção FDN, a Família do Norte, conhecida nacionalmente após alguns de seus integrantes terem participado de uma rebelião no Complexo Anísio Jobim, em Manaus, no Amazonas, em janeiro de 2017, e executado membros do PCC.
Uma das hipóteses levantadas por moradores é de que a FDN estaria ampliando a presença nas periferias de São Paulo e assim estaria mais preparada para rivalizar com lideranças do PCC. “A FDN é um segmento muito forte do crime organizado e também está presente na capital paulista”, diz um morador. Em janeiro, a Secretaria de Segurança Pública disse que não há guerra de facções na cidade.

Gegê vendia drogas na Vila Madalena antes de entrar no PCC
Gegê vendia drogas na Vila Madalena antes de entrar no PCC

Da infância no mangue à facção - Segundo uma pessoa que estudou com o integrante da facção durante a adolescência, que também não quis se identificar, Gegê ganhou o apelido durante a infância, quando viveu na região de mangue da Vila Madalena. “Ele era uma pessoa impulsiva e temperamental, mas sempre teve uma postura de querer resolver as coisas”.
Rogério Jeremias de Simone estudou na Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, na Vila Madalena. “Gostava de estudar, andar pelas ruas do mangue e jogar futebol”.
Segundo relatos, Gegê começou a traficar ainda na adolescência. Aos 18 anos, foi preso por vender maconha e cocaína aos frequentadores de bares da Vila Madalena. Réu primário, ficou um ano detido até ser preso novamente por tráfico e assassinato. Nos 12 anos que passou em regime fechado, conheceu lideranças do PCC, que o teriam batizado para entrar na facção.
Gegê conquistou a confiança dos líderes em pouco tempo. Com isso, ganhou autonomia para executar tarefas que exigiam responsabilidade fora dos presídios. Para o promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) Núcleo Presidente Prudente, que investiga há anos a organização, uma das hipóteses é de que a morte dele teria ocorrido em represália ao assassinato de Edilson Borges Nogueira, o Birosca, em dezembro de 2017.

Lavagem de dinheiro e domínio - Os moradores e comerciantes afirmaram que muitos estabelecimentos da Vila Madalena seriam utilizados pela facção para lavagem de dinheiro. “Lojas de carros, posto de gasolina, oficina mecânica”.
O integrante da facção criminosa também teria vasto domínio na região. “Qualquer coisa que acontecesse por aqui com conhecidos, Gegê queria saber e o responsável sofria represálias. “Ele comandava tudo, desde a política até o futebol”. Gegê era considerado inteligente e cauteloso para se relacionar com pessoas.
Gegê passou por 15 presídios. O último foi a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista, onde foi solto. Porém, como não compareceu ao próprio julgamento, passou a ser considerado foragido.
Tido como um dos três principais líderes da facção, ele foi encontrado morto a tiros ao lado de outro membro, Fabiano Alves de Souza, o Paca, também foragido da Justiça. Segundo relatos de policiais, os cadáveres tinham marcas de tortura e com facadas nos olhos.

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