Moradores da Vila
Madalena temem consequências da morte de Gegê do Mangue
Cinco dias após a morte do mais
poderoso integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em
liberdade, Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, moradores
e comerciantes da Vila Madalena, bairro boêmio onde viveu o criminoso, temem
que a criminalidade e a violência aumente na região. Ele foi encontrado morto
em uma suposta emboscada em uma reserva indígena de Aquiraz, no Ceará.
Para um comerciante que trabalha
no local há mais de 40 anos, que preferiu não se identificar, mesmo após ter
deixado de viver no bairro, Gegê do Mangue oferecia certa segurança e exercia
controle sobre a região. “Enquanto ele era vivo, tínhamos tranquilidade, agora
não sabemos mais como vai ser”.
Embora o PCC seja conhecido por
ocupar atualmente o posto de maior organização criminosa do país, moradores
afirmam que temem conflitos com membros da facção FDN, a Família do Norte,
conhecida nacionalmente após alguns de seus integrantes terem participado de
uma rebelião no Complexo Anísio Jobim, em Manaus, no Amazonas, em janeiro de 2017,
e executado membros do PCC.
Uma das hipóteses levantadas por
moradores é de que a FDN estaria ampliando a presença nas periferias de São
Paulo e assim estaria mais preparada para rivalizar com lideranças do PCC. “A
FDN é um segmento muito forte do crime organizado e também está presente na
capital paulista”, diz um morador. Em janeiro, a Secretaria de Segurança
Pública disse que não há guerra de facções na cidade.
Gegê vendia drogas na
Vila Madalena antes de entrar no PCC
Da infância no mangue à facção - Segundo
uma pessoa que estudou com o integrante da facção durante a adolescência, que
também não quis se identificar, Gegê ganhou o apelido durante a infância,
quando viveu na região de mangue da Vila Madalena. “Ele era uma pessoa
impulsiva e temperamental, mas sempre teve uma postura de querer resolver as
coisas”.
Rogério Jeremias de Simone
estudou na Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, na Vila
Madalena. “Gostava de estudar, andar pelas ruas do mangue e jogar futebol”.
Segundo relatos, Gegê começou a
traficar ainda na adolescência. Aos 18 anos, foi preso por vender maconha e
cocaína aos frequentadores de bares da Vila Madalena. Réu primário, ficou um
ano detido até ser preso novamente por tráfico e assassinato. Nos 12 anos que
passou em regime fechado, conheceu lideranças do PCC, que o teriam batizado
para entrar na facção.
Gegê conquistou a confiança dos
líderes em pouco tempo. Com isso, ganhou autonomia para executar tarefas que
exigiam responsabilidade fora dos presídios. Para o promotor de Justiça do
Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação
Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) Núcleo Presidente Prudente, que
investiga há anos a organização, uma das hipóteses é de que a morte dele teria
ocorrido em represália ao assassinato de Edilson Borges Nogueira, o Birosca, em
dezembro de 2017.
Lavagem de dinheiro e domínio - Os
moradores e comerciantes afirmaram que muitos estabelecimentos da Vila Madalena
seriam utilizados pela facção para lavagem de dinheiro. “Lojas de carros, posto
de gasolina, oficina mecânica”.
O integrante da facção criminosa
também teria vasto domínio na região. “Qualquer coisa que acontecesse por aqui
com conhecidos, Gegê queria saber e o responsável sofria represálias. “Ele
comandava tudo, desde a política até o futebol”. Gegê era considerado
inteligente e cauteloso para se relacionar com pessoas.
Gegê passou por 15 presídios. O
último foi a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista,
onde foi solto. Porém, como não compareceu ao próprio julgamento, passou a ser
considerado foragido.
Tido como um dos três principais
líderes da facção, ele foi encontrado morto a tiros ao lado de outro membro,
Fabiano Alves de Souza, o Paca, também foragido da Justiça. Segundo relatos de
policiais, os cadáveres tinham marcas de tortura e com facadas nos olhos.
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