A tragédia em Milagres, na Sexta-feira, 7, deixou marcas emocionais profundas
nas famílias dos reféns - seis foram mortos durante a desastrosa abordagem
policial. Na outra ponta do drama, mexeu negativamente com a autoestima de
policiais militares que participaram da ação contra os assaltantes de banco.
Uma quadrilha tentou roubar as agências do Bradesco e do Banco do Brasil do
município do Cariri cearense, oito criminosos morreram.
De sexta-feira para cá, o clima é de desolação na sede do Grupo de
Ações Táticas Operacionais (Gate) - unidade do Batalhão de Choque da PM do
Ceará empregada na operação. Em meio às dúvidas, conversas sobre erros e
responsabilização pelo resultado final do acontecido, alguns policiais
precisaram de acompanhamento por causa do estresse pós-traumático gerado pela
ocorrência.
Na noite de domingo, 9, segundo um militar, durante a transmissão do
programa Fantástico, da Rede Globo, quando foi ao ar o drama de familiares de
reféns mortos, "na medida em que o close das câmeras aproximava a imagem
dos caixões, a mão na cabeça e as lágrimas refletiam o desespero" de
alguns profissionais do Gate. Os PMs do grupamento especial recebem treinamento
diferenciado para ações de alta complexidade e são considerados, dentro da Segurança,
a elite da PM do Ceará.
Na tarde de ontem, no próprio Batalhão de Choque, os agentes que
estiveram em Milagres receberam atendimento psicológico. Estava marcada,
também, reunião entre os PMs e advogados que prestam serviços voluntários na
defesa jurídica de profissionais da Secretaria da Segurança Pública.
O governador anunciou o afastamento de 12 PMs sem identificá-los, por
causa da condição de investigados e das informações difusas sobre como se deu o
episódio. Ainda não há elementos técnico-científicos para cravar de onde
partiram os tiros que mataram os seis reféns. A perícia do local do crime, os
laudos cadavéricos, a reconstituição da cena do tiroteio e os depoimentos de
sobreviventes, policiais, criminosos presos e testemunhas deverão dizer.
Há no meio da tropa uma preocupação quanto às responsabilizações. Havia
um comando e informações de inteligência precárias sobre aspectos táticos e de
estratégia que deveriam estar mais claro antes e durante a operação. De acordo
com uma fonte, a falta de qualidade dos informes de inteligência e a análise
equivocada de quem estava no comando da operação teriam causado a morte de seis
inocentes.
O uso de reféns por criminosos é, usualmente, cogitado pelo Gate. No
entanto, explica a fonte, as quadrilhas costumam fazer reféns durante a fuga.
Nos últimos anos, não houve casos em que os "escudos humanos" foram
levados na ida para o assalto. A mudança do modo de agir causou dúvidas, mas
não foi suficiente para abortar a operação ou mudar a estratégia em Milagres.
Normalmente, informações sobre grandes assaltos a banco chegam por
grampos em telefones usados pela quadrilha ou porque algum dissidente do bando
resolve delatar. No caso de Milagres, a Polícia de Sergipe teria utilizado
escuta. Porém, os assaltantes viajaram para Milagres sem celulares, interrompendo
o sinal de localização.
"Se a Inteligência soubesse
onde os caras estavam reunidos era fácil. Tanto que tinham policiais espalhados
em cidades vizinhas a Milagres (Barro e Missão Velha), mas se concentraram em
Milagres pelo fato de ter duas agências", relata a fonte.
Cautela - Segundo o procurador-Geral de Justiça no
Ceará, Plácido Rios, "os policiais não vislumbravam esse resultado (seis
reféns e oito assaltantes mortos). Imagino a situação desses PMs". Porém
tem de se ter mais "cautela".
Vigilância - Para Plácido Rios (PGJ), a atividade
policial é de altíssimo risco, "mas conseguimos diminuir os riscos quando
se seguem protocolos rígidos de atuação. É isso que queremos e devemos cobrar
da PM do Ceará".
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