A Polícia Civil e a PRF não foram
informadas sobre a ofensiva militar
Vários questionamentos sobre a atuação policial, na operação que
culminou na morte de 14 pessoas (inclusive seis reféns), no Município de
Milagres, continuam ecoando no imaginário da sociedade. Os depoimentos de
policiais militares do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) que participaram
do tiroteio ainda não são conclusivos. Pelo contrário, os testemunhos dos PMs
se contradizem.
Um major (identidade preservada) afirmou que os mortos foram
identificados somente após o combate ter cessado.
Cinco pessoas que morreram na calçada lateral da agência bancária do
Bradesco seriam reféns. Apesar de não identificar quem era assaltante ou refém
(ou mesmo se havia refém), o oficial defendeu que esses reféns não foram
assassinados por policiais militares. Segundo ele, essas vítimas se localizavam
em posição que não havia como serem alvejadas pela Polícia, pois a equipe vinha
em progressão pela lateral do Banco do Brasil, ou seja, sequer houve contato
visual.
O major acrescenta que outros dois reféns, que estavam na lateral do
Banco do Brasil, foram prontamente identificados nessa situação pela patrulha,
que verbalizou para que deitassem no chão como proteção para os tiros.
Já um capitão da Polícia Militar garantiu, em depoimento, que, já no
fim do confronto, em frente aos bancos, foi possível identificar a presença de
dois reféns com a quadrilha e que assaltantes atiraram contra os mesmos. A fala
contradiz tudo o que foi dito até o momento. O próprio titular da Secretaria da
Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, colocou que os
policiais desconheciam a presença de reféns.
Efetivo - Doze policiais militares do Gate
participaram da operação que terminou de forma trágica. Nenhum outro batalhão
especial da Polícia Militar esteve presente no tiroteio, nem os PMs da região.
A Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) não foram informadas sobre
a ofensiva militar. Decisões que até hoje, 12 dias depois, ainda não foram
explicadas pelas autoridades.
Dois policiais - um sargento e um cabo - eram atiradores de
elite (snipers), que estavam na posse de fuzis AR-10, que precisam de um apoio
físico para atirar. Os outros dez militares também portavam fuzis, do calibre
5.56. Todos ainda portavam pistolas 9 mm.
O capitão que prestou depoimento à Polícia Civil contou que três
equipes do Grupo de Ações Táticas Especiais foram deslocadas para uma suspeita
de tentativa de assalto a instituição financeira, sem saber onde aconteceria a
ação criminosa. Os policiais só souberam que o crime se daria em Milagres ao
passarem pelo Município e ouvirem os sons dos tiros, segundo ele.
O militar informou ainda que havia cerca de 30 criminosos, armados de
fuzis. O avanço policial teria sido freado pelos disparos do armamento pesado.
O capitão disse que muitos homens estavam encapuzados ou de posse de materiais
que seria usados para efetuar o arrombamento das agências bancárias, motivos
pelos quais ele acreditava se tratar de bandidos.
Os doze policiais militares estão suspensos de suas funções, enquanto a
investigação é concluída. A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de
Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) investiga a responsabilidade
dos agentes de segurança nas mortes. O Ministério Público do Ceará (MPCE)
acompanha e fiscaliza as investigações. O laudo pericial da Perícia Forense do
Ceará (Pefoce) ainda está sendo elaborado, já tendo ultrapassado os dez dias
previstos no prazo inicial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário