A Beata chegou a transformar o
"Corpo de Cristo" em sangue por 82 vezes
Após 20 anos enclausurada numa casa, Maria Magdalena do Espírito Santo
de Araújo, a beata Maria de Araújo, morreu no dia 17 de janeiro de 1914, em
Juazeiro do Norte. Exatos 105 anos depois, ninguém sabe onde estão seus restos
mortais, desde que seu túmulo foi violado e destruído na Capela do Perpétuo
Socorro, em 1930. Responsável pelo início das romarias, sua reclusão foi
imposição da Igreja Católica para que a mulher e seus supostos milagres fossem
esquecidos. Foi nela que a hóstia virou sangue, depois de comungada pelo Padre
Cícero, no popular "Milagre de Juazeiro". Os panos manchados foram os
primeiros objetos de adoração.
Uma praça em frente a Basílica de Nossa Senhora das Dores com um busto
erguido é um dos poucos lugares que carrega o nome da beata Maria de Araújo, em
Juazeiro do Norte. Além disso, a mulher está presente no nome de uma rua, no
bairro João Cabral, como estátua no Museu Vivo do Padre Cícero, no Horto, no
vitral e em um jazigo vazio, na Capela do Socorro. Ao contrário do
"Padrinho", que tem estátuas de gesso, madeira e até de borracha, por
todos os lados, sendo comercializadas, a protagonista do milagre sequer é
reconhecida pelos romeiros.
Tudo isso é muito pouco para quem pode ter sido responsável pelo início
do fenômeno das peregrinações e, consequentemente, do crescimento e
desenvolvimento da cidade de cerca de 270 mil habitantes.
A Beata transformou a hóstia em sangue, pela primeira vez, em 1886. No
entanto, já havia manifestado estigmas, tinha visões, realizava profecias e
viajava em espírito para salvar as almas do purgatório. Muitos destes milagres
foram creditados pela oralidade popular ao Padre Cícero. Até 1889, ela chegou a
transformar o "Corpo de Cristo" em sangue por, pelo menos, 82 vezes.
Cinco anos depois, após vários padres analisarem seu caso, ela foi condenada à
reclusão em 1894. Seu nome sequer podia ser mencionado.
Nem ela, nem o próprio Padre Cícero admitiram que os fenômenos foram
"embustes" como a Igreja exigia. O sacerdote teve suas ordens
suspensas e sua reconciliação com o Vaticano só aconteceu há três anos, após
carta escrita pelo Papa Francisco. Quanto a Maria de Araújo, ela nunca voltou a
ser objeto de culto popular. Os próprios romeiros a confundem com a Beata
Mocinha, que trabalhava como governanta na casa do "padrinho". "Não
há possibilidade de ela se tornar santa".
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