João Roberto foi morto em sua
Hilux na porta da Câmara Municipal, em agosto de 2018
Uma verdadeira teia criminosa manipulada por políticos ligados ao crime
organizado e patrocinada em parte com recursos públicos através de distribuição
de cargos comissionados no Legislativo. Esta é a linha de apuração da Polícia
Judiciária e do Ministério Público que veio à tona com a investigação sobre a
morte do presidente da Câmara Municipal de Itaitinga, na Região Metropolitana
de Fortaleza (RMF)
João Roberto de Oliveira Martins tinha 52 anos e estava no comando da
Presidência da Câmara, quando foi morto por um grupo de pistoleiros na manhã do
dia 31 de agosto do ano passado. Os assassinos fizeram questão de escolher o local
onde o político deveria ser morto: a porta da Câmara Municipal. E assim
aconteceu.
No momento em que parava sua caminhonete importada na frente da Câmara,
João Roberto foi surpreendido por seus algozes. Acabou fuzilado na direção da
Hilux, atingido com cerca de 10 tiros de pistolas de vários calibres, de acordo
com a Perícia. A mulher dele foi baleada, sem gravidade. As câmeras de
segurança gravaram tudo.
De agosto do ano passado até hoje, a Polícia Civil e o Ministério
Público Estadual trabalhavam no caso no mais absoluto sigilo, até que no começo
desta semana os fatos vieram à tona e apontaram os nomes dos envolvidos na
trama e execução do assassinato de João Roberto.
Seis pessoas estão na lista dos investigados, entre eles, um vereador
de Itaitinga, Demétrius Sá, que foi detido na última segunda-feira (8) em casa
e teve seu celular apreendido, assim como o de sua esposa. Após ser ouvido, acabou liberado. Detrás das grades
permanecem outros suspeitos.
Para a Polícia e o MP, as investigações começaram a clarear com a
descoberta de que os assassinos e seus mandantes tinham e ainda têm trânsito
livre nos corredores e na folha de pagamento da Câmara Municipal de Itaitinga.
Celulares apreendidos - Um dos investigados é Tiago Barbosa,
chefe de Gabinete da Prefeitura, que juntamente com a esposa, Lia Mesquita
Barbosa, foi alvo de um dos mandados de busca e apreensão executados pela
Polícia Civil na última segunda-feira (8).
Tiago é aliado do vereador Demétrius. Na casa dele, a Polícia teria
prendido José Roberto Braga Mesquita, 27 anos, um dos executores do crime.
Roberto é primo de Lia, mulher de Tiago Barbosa.
De acordo com a Polícia, Roberto já confessou ser um dos quatro homens
filmados matando o presidente da Câmara.
Também participaram da execução sumária, Rafael Ribeiro Carneiro, 30
anos; Rafael Alves Nunes, 33 anos, o “Rafael Dogão”; além de José Flávio de Sousa, 43 anos,
preso no último fim de semana e apontado
como o mandante do crime. O quinto homem
da quadrilha seria Samuel Adams Barros Andrade, 22 anos. Na casa de Samuel a
Polícia encontrou armas, drogas e munições.
O que deixou intrigado as autoridades policiais que apuram o caso foi o
fato de que alguns dos envolvidos no crime terem sido aliados de campanha
eleitoral da vítima e acabaram se tornando seus algozes.
Outro ponto que mereceu a atenção dos delegados que investigam o crime
é de que parentes dos envolvidos ocupam até hoje cargos comissionados na Câmara
Municipal de Itaitinga. A mãe de um dos suspeitos ocupa um desses cargos após
ter sido indicada pelo vereador assassinado.
No caso do bandido conhecido como “Rafael Dogão”, este chegou a
trabalhar como segurança particular de João Roberto.
Morte - Na mesma linha de investigação, a Polícia
aprofunda o envolvimento da própria vítima com o crime organizado que atua
dentro e fora da Câmara de Itaitinga e que já produziu outros assassinatos além
do caso do presidente daquela casa legislativa.
Um desses crimes ocorreu ainda em 2014, quando foi morto, a tiros, um
homem identificado como Wellington Assunção.
O assassinato aconteceu apenas dois após ele postar nas redes sociais a
informação de que a Polícia Federal estaria para “chegar” na Câmara Municipal
de Itaitinga e que desvios de dinheiro público estariam prestes a ser
investigados e que virariam um escândalo envolvendo vários políticos do
Município.
Assunção citou, como exemplo, dinheiro desviado da compra de uma
ambulância, além da verba de R$ 9,5 milhões que teriam “sumido” do Fundo
Municipal.
Com a prisão do grupo, a Polícia acredita que poderá esclarecer uma
sequência de assassinatos misteriosos ocorridos nos últimos quatro anos em
Itaitinga e Municípios próximos, alguns com características de “acerto de
contas” e “queima de arquivo”.
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