Escândalo de pedofilia é investigado
em Ocara
O município de Ocara, na região do Maciço de Baturité, está diante de
um escândalo local sem precedentes e ainda tratado com reservas pela população.
Hoje faz dez dias que o vendedor autônomo Gilberto Pereira de Oliveira, de 48
anos, foi preso preventivamente. Ficou cinco dias mantido na Cadeia Pública de
Baturité e, desde a última terça-feira, após a audiência de custódia, foi
transferido para a Cadeia de Caridade, no Sertão Central. Ele é acusado
formalmente em três casos de abuso sexual contra crianças da cidade. Uma delas
agora já é adulta, outra adolescente e uma tem cinco anos de idade. Os
processos estão abertos na Comarca de Ocara e tramitam sob segredo de justiça.
Há, no entanto, a indicação de que Gilberto possa ser acusado por outras
situações do mesmo crime.
Novas investigações realizadas pela Polícia Civil, com o acompanhamento
do Ministério Público e do Conselho Tutelar, estão considerando que Gilberto
pode estar envolvido em pelo menos outros 19 casos semelhantes. Envolveriam
meninas e meninos e teriam sido supostamente cometidos ao longo de uma década
ou mais. A acusação é de estupro de vulnerável (artigo 217-A, do Código Penal
Brasileiro, "manter relação sexual ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14 anos"). É considerada violência presumida, independe de culpa
ou dolo e o crime é imputado mesmo se a relação for consentida.
Estes 19 casos a mais ainda dependem de formalidades. Foram
levantamentos feitos na região onde o acusado teria molestado mais crianças.
"Do que a gente sabe, o perfil das vítimas seria de crianças de cinco a
12, 13 anos. De ele agradar, chamar para sair, ser amigável com as crianças e
tentar acariciar e cometer atos libidinosos e depois constranger",
detalhou um dos conselheiros tutelares de Ocara, que pediu para não ser
identificado. "As pessoas ainda estão sem coragem", reforça.
É um caso cercado de silêncios. Algumas dessas novas supostas vítimas
hoje são maiores de idade e teriam evitado denunciar por medo de exposição e
até possíveis retaliações. Após a prisão, pelo menos mais duas famílias já
teriam procurado a Delegacia de Ocara se dispondo a relatar acusações contra o
vendedor. Os depoimentos, porém, ainda não foram colhidos porque precisam ter o
acompanhamento obrigatório de psicólogo e assistente social nas oitivas de
crianças e adolescentes. Desde a última terça-feira, "Beto", como é
conhecido, foi levado para a Cadeia Pública de Caridade, no Sertão Central. A
transferência também teria sido por medida de segurança.
As três histórias que levaram à prisão de Gilberto são de dois
episódios antigos e de um mais recente: um aconteceu em 2010, contra uma menina
à época com 11 anos de idade; outro caso foi em 2013, contra um menino então
com dez anos; e o abuso a mais uma menina, a que hoje tem cinco anos de idade,
foi denunciado em dezembro do ano passado.
Renan Peixoto, delegado responsável pela Polícia Civil em Ocara e
Barreira, cidade vizinha, disse que assumiu o cargo há somente 20 dias e ainda
não pode esclarecer porque os casos, com denúncias que remetem a fatos de quase
dez anos, não tiveram andamento à época.
Durante a audiência de custódia, na terça-feira, ele negou as acusações
diante do juiz Lucas Medeiros, que responde pela comarca de Ocara. Teria
respondido friamente, sem ênfase a sua inocência. Perguntou para qual presídio
seria levado, se poderia manter sua medicação regular na cela, indicou nomes
que poderiam visitá-lo. Se condenado por estupro de vulnerável, ele pode
responder por pena que vai de oito a 15 anos para cada caso que seja confirmado
contra ele.
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