Moradores que se recusam a deixar
suas casas acabam sendo mortos pelas quadrilhas
Morto na porta de casa - Idoso se
recusou a deixar o imóvel e foi fuzilado, em Caucaia
O terror está de volta. Após uma breve trégua, as facções do tráfico
voltaram a agir no Ceará. Na Grande Fortaleza, as quadrilhas ligadas às
organizações criminosas reiniciaram a guerra por território e voltaram a
expulsar moradores de suas casas. Em Caucaia, famílias tiveram que deixar seus
imóveis rapidamente, sem, ao menos, terem tempo de retirar a mobília. Na Zona
Leste da Capital, bandidos expulsaram moradores da Comunidade dos Cocos.
A situação em várias comunidades de Caucaia é de terror e desespero
entre os moradores por conta das ameaças dos criminosos. No bairro Itambé, um
idoso foi morto a tiros, na semana passada, por ter se recusado a obedecer as
ordens de uma facção para se retirar de
sua casa em 24 horas. O aposentado José Rodrigues Deodoro, 63 anos, foi
fuzilado na porta da residência, na Rua Vila Nova, diante da família. O crime ocorreu na manhã do dia 7 passado.
O mesmo aconteceu com o operário Jânio Vinícius da Costa, que tinha 27
anos, e morava na Rua Princesa Isabel, no bairro São Miguel, também em Caucaia.
Segundo a família, ele havia recebido um “ultimato” de bandidos de uma facção
para deixar a casa. Jânio não acatou a
ordem da facção e acabou fuzilado e morto na tarde do feriado de 1º de maio,
Dia do Trabalhador. E Jânio era um
trabalhador.
Já na noite da última segunda-feira (20), sete famílias do bairro
Itambé foram expulsas de suas residências. Segundo relatos de alguns dos
moradores, um grupo de homens armados passou na rua, batendo nas portas das
casas e avisando para todos irem embora dali, caso contrário a facção iria “botar
fogo” nas casas com seus moradores dentro delas.
Temendo o pior, os moradores obedeceram. Cerca de 35 pessoas, entre adultos, crianças
e jovens, passaram a noite de segunda-feira e a madrugada seguinte abrigados em
um posto de combustíveis no bairro Icaraí, se protegendo da chuva forte e
escapando da morte.
Zona Leste também - A mesma situação vivida pelos moradores
de Caucaia também é uma realidade em vários bairros da Capital. Na Comunidade dos Cocos, na Praia do Futuro,
diversas casas foram abandonadas pelos seus donos. A expulsão das famílias
aconteceu após uma facção que havia perdido o território da favela ter retomado
o terreno para o tráfico.
A situação nas comunidades periféricas da Grande Fortaleza é, na
verdade, é uma repetição do que aconteceu a partir de 2015, quando as facções
criminosas Comando Vermelho (CV), Guardiões do Estado (GDE) e Primeiro Comando
da Capital (PCC) se instalaram na faixa mais pobre da cidade. Bairros como São
Miguel, Jangurussu, Bom Jardim, Barra do Ceará, Messejana, Mucuripe, Vicente
Pinzón, Jardim Iracema, Vila Velha e tantos outros da Capital foram dominados
pelas quadrilhas.
O resultado disso foi a deflagração de uma “guerrilha” nas ruas que
levou o Ceará a registrar em 2017 um recorde histórico nos índices de Crimes
Violentos, Letais e Intencionais (CVLIs), isto é, homicídios, latrocínios e
lesões corporais seguidas de morte.
Naquele ano, nada menos que 5.332 pessoas foram assassinadas no
estado. Em 2018, foram mais 4.825
execuções, o que totalizou 10.157 pessoas mortas no estado em apenas dois anos.
Números de uma verdadeira guerra.
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