Os crimes teriam acontecido em
2015 - A acusada era inspetora do 12º Distrito Policial
Uma investigação realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às
Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), aponta
que traficantes de uma facção criminosa paulista pagavam valores mensais a
policiais que atuavam no bairro Bom Jardim, em Fortaleza. Em troca, o tráfico
de drogas era permitido na área. Os fatos teriam acontecido em 2015, segundo a
apuração do MPCE.
Por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça foi
possível ao MPCE instaurar um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) contra
a inspetora Vitória Régia Holanda da
Silva. Vitória era lotada no 12º Distrito Policial, do Bom Jardim, e é
acusada de colaborar com traficantes e depois extorqui-los. Acusada nega as
acusações.
Em fevereiro deste ano, a Justiça cearense acolheu a denúncia contra a
inspetora e determinou que ela fosse suspensa imediatamente das suas funções.
Na semana passada, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança
Pública (CGD) instaurou processo administrativo disciplinar para apurar a
conduta da policial.
Conforme denúncia do MPCE, interceptações telefônicas do número de
Francisco Márcio Teixeira Perdigão, chefe do tráfico no Bom Jardim, mostraram
que ele e Vitória mantinham negócios.
Vitória Régia relatou que Márcio Perdigão falou sobre ela nas ligações
sabendo que estava sendo interceptado e, assim, optando por se vingar dela:
"Ele morava [no bairro] Granja Portugal e atuava lá. São bairros vizinhos.
Com a nossa atuação significativa, as cabeças do tráfico, na época, se
chateavam. Eles têm uma visão que a polícia na área está atrás de dinheiro, mas
não. Eu amo o que eu faço. O argumento dele é dizer que eu pedia dinheiro nas
interceptações, mas não existe nenhum áudio meu nas conversas", disse a
policial.
Acusações - Em um trecho da denúncia apresentada pelo
MPCE, há que: "com dinheiro em mãos e na certeza da impunidade, Vitória e
sua equipe deixariam os membros da organização criminosa citada 'trabalhando'
desembaraçadamente, distante dos olhos da lei".
Em outra conversa anexada ao processo há detalhes do consórcio liderado
por Márcio Perdigão. O traficante cita que vai "levar uma proposta pros
caras", se referindo a uma reunião com os policiais. O faccionado cita o
nome da inspetora Vitória afirmando ter ido conversar com ela para propor
pagamentos mensais: "Ainda tem ela lá, que no mínimo tem que dar dois
conto pra ela... três por mês...".
Possivelmente não satisfeita com o valor, Vitória estava ordenando
diligências nas áreas comandadas por Perdigão. O traficante chegou a pedir que
sua advogada, identificada como Alexandrina, e o seu estagiário, um ex-policial
militar chamado Dickson, conversassem com Vitória e avisassem que, se ela
continuasse extorquindo os integrantes do grupo criminoso, sofreria
consequências.
"Se aquela mulher lá ficar me perturbando, que nem ela está
querendo me perturbar, pressionar, eu vou pegar o moleque tudim lá e vou mandar
os moleques cortar ela na bala tudo de pistola, botar bala dentro do carro
dela, no para-brisas, embora que eu não trabalhe mais lá naquela rua...(...) eu
faço a cruzeta maior da minha vida com ela, macho...", conforme um dos
trechos ditos por Perdigão na ligação. Ainda no mesmo dia, o traficante disse
ter mandado um recado para ela e, em resposta, Vitória teria dito que "ia
dar uma aliviada".
Segundo a servidora, ela teve sua linha telefônica interceptada, no
entanto, nenhuma conversa dela com Perdigão foi encontrada. "Nunca recebi
dinheiro. Tenho dívida para pagar e quero mostrar minha inocência. É uma
vergonha, um tormento. Tenho 13 anos de Polícia Civil. Ninguém nunca me
perguntou sobre as ameaças que ele me fazia", afirmou a inspetora.
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