Cúpula da organização criminosa
está presa e isolada em presídios federais e não teve substituição – Operação teve
como alvos um líder da facção, uma advogada e mais 29 suspeitos
Quatro pessoas que estavam soltas
foram presas
A organização criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE) teve as
principais lideranças isoladas em presídios federais e dezenas de outros
membros presos, neste ano. Para o chefe da Delegacia de Repressão a
Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal (PF), delegado Samuel Elânio, a facção
está perto do fim. Nesta quinta feira (18), a GDE foi alvo de uma nova operação
policial, a 'Reino de Aragão'.
Elânio revela que o grupo criminoso está sem chefia nas ruas.
"Essa substituição não está havendo. Algumas pessoas tentaram ocupar
espaços, mas sem muito êxito. Do meu ponto de vista, essa é uma organização que
tende a se acabar, senão já se acabou. Seja pela falta de estrutura financeira,
seja pela questão do próprio armamento. A gente chegou à conclusão que, se
existe armamento na mão dessa organização, é algo muito ínfimo".
O coordenador do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas
(Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), promotor de Justiça Rinaldo
Janja, prega cautela sobre o fim dos Guardiões do Estado: "Essa facção
sofreu vários golpes, no ano passado e nesse ano. Mas os órgãos de investigação
e de repressão têm que ficar vigilantes, para que não haja essa sucessão dentro
da facção".
A GDE nasceu no bairro Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, no ano de
2015, a partir de uma torcida organizada de futebol. Nos anos seguintes, a
facção travou uma guerra sangrenta com o Comando Vermelho (CV), em todo o
Estado, pelo domínio do tráfico de drogas, a ponto de o número de homicídios
ultrapassar 5 mil em 2017.
O início de 2018 foi marcado por matanças. Os Guardiões do Estado foram
apontados como autores da Chacina das Cajazeiras e da Chacina do Benfica, que
deixaram o total de 21 mortos na Capital. Mas no segundo semestre daquele ano,
o Estado começou a reduzir os índices de mortes violentas - o que se repete até
hoje.
A maior onda de ataques a instituições públicas e privadas, com mais de
200 ocorrências, foi registrada em janeiro e fevereiro de 2019. GDE, CV e
Primeiro Comando da Capital (PCC) estavam por trás dos incêndios criminosos. O
Estado foi obrigado a combater, com mais ênfase, as facções criminosas. E uma
das medidas adotadas foi a transferência das lideranças dos grupos criminosos
para presídios federais de segurança máxima.
Os seis principais líderes da GDE, segundo a Polícia, já estão detidos
em outros estados: Ednal Braz da Silva, o 'Siciliano'; Francisco de Assis
Fernandes da Silva, o 'Barrinha' ou 'Guardião'; Francisco Tiago Alves do
Nascimento, o 'Magão' ou 'Juara'; Marcos André Silva Ferreira, o 'Branquinho'
ou 'Dedé'; Yago Steferson Alves dos Santos, o 'Supremo' ou 'Gordão'; Deijair de
Souza Silva, o 'Mestre' ou 'De Deus'. Cada membro da alta cúpula era dono de um
anel templário de ouro, com a inscrição da abreviação do apelido, avaliado em
R$ 7 mil.
Liderança - O principal alvo da Operação 'Reino de
Aragão' era 'Siciliano', que teve um mandado de prisão preventiva cumprido. A
investigação descobriu que ele - mesmo preso em Pernambuco - deu ordens em uma
nova série de ataques, ocorrida no Ceará, em setembro deste ano. Desta vez, a
GDE foi a única responsável por pelo menos 115 atos criminosos, de acordo com
as autoridades.
'Siciliano' foi localizado na Operação Torre, deflagrada também pela PF
e pelo Gaeco, em 26 de setembro último, para prender os responsáveis por
ataques a torres de transmissão de energia, em Fortaleza e Maracanaú, em abril
deste ano. A partir de decisão judicial, ele foi transferido de um presídio
estadual de Pernambuco para uma unidade federal.
Advogada - Um mandado de prisão preventiva também foi
cumprido contra a advogada Elisângela Maria Mororó, que já estava detida em um
presídio de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Ela foi
presa no Município de Catarina, no dia 13 de novembro último, por suspeita de
vender cocaína por R$ 15 mil, o quilo. Na residência onde a mulher estava que
seria de propriedade de um líder da organização criminosa, foram apreendidos
uma pistola e 500g da droga.
Segundo Elânio, a atuação da advogada na GDE se dava "de diversas
formas". "Levando e trazendo recado, trocando mensagens com aquele
preso em Pernambuco. Não seria uma mera integrante, ela participava diretamente
da situação. Não propriamente dos ataques (execução), mas ela seria uma das
mentoras de tudo que ocorreu no Estado neste ano, em relação aos ataques das organizações
criminosas".
Operação - A 'Operação Reino de Aragão' foi deflagrada
pela PF e pelo Gaeco, com apoio das polícias Civil e Militar, da Secretaria da
Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), da Secretaria da Administração
Penitenciária (SAP) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
O objetivo era o cumprimento de 31 mandados de prisão preventiva e 20
mandados de busca e apreensão, no Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
Norte e Paraná, expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas da
Justiça do Estado do Ceará. Cerca de 140 policiais (sendo 80 federais, 50
militares e 10 civis) participaram da Operação. Dez mandados de prisão foram
cumpridos, sendo seis contra alvos que já estavam no cárcere e quatro contra
pessoas soltas, até o fechamento desta matéria.
No Ceará, os mandados foram cumpridos em Fortaleza, Maranguape e
Juazeiro do Norte. Mais especificamente na Capital, os alvos estavam
localizados tanto na periferia como na área nobre. Os investigados irão
responder, conforme a conduta, pelos crimes de dano, incêndio e organização
criminosa.
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