Parte dos policiais militares do
Ceará parou as atividades, o que é inconstitucional - Crimes violentos
aumentaram durante a paralisação
Homens encapuzados furam pneus de
carros da polícia em Fortaleza
Seis policiais militares denunciados pelo Ministério Público do Ceará
(MPCE) por envolvimento com o motim de fevereiro deste ano já viraram réus na
Justiça Estadual. Cerca de 300 PMs seguem sob investigação por também cometerem
crimes, durante o movimento paredista. O motim durou 13 dias, entre 18 de
fevereiro e 1º de março.
O cabo da Reserva Remunerada da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e
ex-deputado federal Flávio Alves Sabino, conhecido como Cabo Sabino, virou réu
pelos crimes militares de incitamento,
aliciamento para motim ou revolta, motim, revolta, omissão de lealdade militar,
publicação ou crítica indevida e inobservância de lei, regulamento ou
instrução. Somadas as penas, ele pode ser condenado a até 42 anos de prisão.
A denúncia da Promotoria de Justiça Militar e Controle Externo da
Atividade Policial Militar foi aceita pela Auditoria Militar da Justiça
Estadual, no dia 16 de março deste ano.
Cabo Sabino teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Roberto Soares
Bulcão Coutinho no dia 20 de fevereiro, mas não foi localizado. No dia 5 de
março, após o fim do motim, o mesmo magistrado revogou a prisão, por entender
que o acusado não atrapalharia mais o processo criminal estando em liberdade,
mas proibiu o policial de acessar qualquer unidade militar por seis meses.
Parte dos policiais parou as atividades em reivindicação por aumento
salarial, o que é proibido pela Constituição. Como demanda para encerrar a
greve, os policiais exigiram anistia, o que foi negado pelo Governo do Estado.
Durante os 13 dias de motim o número de crimes violentos cresceu no estado.
Acusação e defesa
Cabo Sabino é considerado o
cabeça da paralisação dos policiais militares, segundo o Ministério Público
Para a Promotoria, cabo Sabino foi o principal líder do movimento
paredista e, já no dia 13 de fevereiro último, através de um vídeo publicado no
Facebook, instigou e conclamou os PMs a participarem da paralisação. "Quem
quer parar a tropa não chama para a Assembleia, porque Polícia não para no meio
da rua, Polícia para em quartel", teria dito o militar reformado.
Ainda segundo a acusação, cabo Sabino e esposas de militares se dirigiram
para o 18º Batalhão de Polícia Militar, em Fortaleza, onde fecharam a entrada
do prédio e iniciaram uma manifestação, com adesão dos PMs. Viaturas e
motocicletas policiais começaram a ter os pneus esvaziados, para não
circularem. Desde então, o movimento se espalhou por pelo menos 13 batalhões da
Capital e do Interior e durou 13 dias.
Cabo Sabino refutou o termo "motim" e alegou que houve um
movimento paredista, no qual ele não cometeu crimes.
"Quando eu cheguei, a paralisação já tinha acontecido, as esposas
dos policiais já haviam fechado o quartel, vários policiais já estavam lá. Eu
entrei mais como um mediador, até porque participei de um movimento em 2011,
2012, sou presidente da Associação dos Militares do Estado do Ceará, fui
deputado federal. A própria categoria exigia a presença de lideranças",
defendeu.
"O Ministério Público quer achar um culpado, essa é a realidade.
Estão dentro da função institucional deles. Assim como nós temos direito à
ampla defesa e ao contraditório e vamos comprovar que nós não temos culpa e que
não somos isso que o Ministério Público está acusando. Enquanto os governantes
não tiverem a sensibilidade de ouvir a categoria, não só os comandantes, nós
vamos ter sempre essa insatisfação, passível de os policiais paralisarem as
atividades a qualquer momento", completou.
Grupo preso
Encapuzados ocupam unidade da
tropa de elite da PM do Ceará em Sobral
Cerca de 60 policiais militares, que usavam balaclava e estavam
amotinados no 18º BPM no dia 18, cercaram uma viatura policial nas
proximidades. Neste momento, uma composição do Comando de Policiamento de
Choque (CPChoque), da Polícia Militar, passou pelo local e tentou abordar o
grupo.
Três PMs foram presos em flagrante: os soldados Francier Sampaio de
Freitas, Jardeson Feitosa Tabosa e José Carlos Soares de Morais Júnior (dois
deles armados). Na ação, ainda foi apreendida uma mochila com a identidade
funcional e a arma do cabo David Gonzaga Formiga.
O MPCE denunciou o cabo David Formiga pelos crimes militares de motim,
omissão de lealdade militar, atentado contra viatura ou outro meio de
transporte e condescendência criminosa. Os outros PMs foram acusados apenas por
motim e atentado contra viatura ou outro meio de transporte. A Auditoria
Militar aceitou a denúncia e o grupo virou réu, no dia 26 de fevereiro deste
ano.
Crimes nas redes sociais - Já o soldado Márcio Wescley Oliveira dos
Santos foi acusado pele MPCE pelo crime militar de apologia de fato criminoso
ou do seu autor. A Auditoria Militar aceitou a denúncia e ele virou réu, no dia
27 de fevereiro deste ano.
Segundo a Promotoria, o militar incitou os colegas de farda a
realizarem o movimento paredista, através de postagens nas redes sociais,
inclusive vídeos em que aparece com a farda da Polícia Militar, entre os meses
de janeiro e fevereiro.
Em uma das publicações, segundo a denúncia, ele critica o governador
Camilo Santana e diz que "já era pra (Polícia Militar) ter parado, porém a
tropa bem que podia pedir a renúncia dele e aumento".
Mesmo após o motim, o soldado teria continuado a publicar mensagens
desrespeitosas contra o governador e também direcionadas ao secretário da
Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, e ao comandante da
PMCE, coronel Alexandre Ávila, o que resultou em outro processo criminal, pelos
crimes de incitamento, publicação ou crítica indevida e desacato a superior,
também previstos no CPM.
Neste último caso, o PM teve a prisão domiciliar decretada pela Justiça
Estadual, com aplicação de tornozeleira eletrônica e proibição de utilizar
aparelhos celulares e computadores e de acessar redes sociais e aplicativos de
mensagem, no último dia 2 de junho. A Polícia Militar do Ceará confirmou que a
medida judicial foi cumprida.
Policiais investigados - Cerca de outros 300 policiais militares
ligados ao motim seguem sendo investigados.
Dentre esse total, 199 PMs foram autorizados a voltar ao serviço pela
Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema
Penitenciário do Ceará (CGD), no dia 3 de junho último. Eles estavam afastados
preventivamente por 120 dias, desde o fim de fevereiro, e retornarão antes do
previsto. Apesar da decisão, o grupo continua a responder aos processos
administrativo e criminal por participação no motim.
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