Pai de criança baleada diz que decisão é 'revoltante' e que policiais 'atiraram pra matar'
A Polícia Civil do Ceará decidiu não indiciar por homicídio os
policiais militares envolvidos em uma abordagem que deixou três pessoas feridas
em Hidrolândia, no interior do Ceará. Eles vão responder por crimes militares,
e não na Justiça comum. As pessoas baleadas são dois jovens e uma criança de 10
anos; um dos jovens, de 22 anos, foi atingido em um dos olhos e perdeu a visão.
O pai de um dos baleados disse que os policiais "atiraram para matar", já que eles não pediram para o
veículo parar e já chegaram efetuando os disparos.
As vítimas estavam em um carro quando foram atingidas, em 9 de julho.
Amanda Carneiro, uma das passageiras do veículo atingido pelos disparos, disse
que estava no carro com o namorado, Pedro Henrique; com o irmão, um menino de
10 anos; e com dois amigos. Eles pararam o veículo e brincaram de soltar bombas
de São João em um campo.
"Houve protesto porque não houve razão nenhuma (para os disparos),
a intenção deles foi de realmente atirar pra matar, foi um dolo sem dúvida
nenhuma, foi pra matar porque não houve abordagem, não houve nada. Inclusive
com a sinaleira apagada, com a sirene desligada, e de repente, sorrateiramente,
o carro vai passando e eles atiram", disse Pedro Peres de Sousa, pai do
Pedro Henrique, que perdeu a visão de um olho e também sofreu um tiro na perna.
Os policiais envolvidos no tiroteio foram afastados do cargo e
entregaram armas.
Crime militar - Os policiais militares responsáveis pelo
tiroteio devem responder por crime militar, e não por crimes comuns (lesão corporal,
tentativa de homicídio), conforme despacho do delegado de Polícia Civil
responsável pela investigação.
Igor Vasconcelos Fernandes, da Delegacia Municipal de Santa Quitéria,
entendeu que os policiais cometeram “erro de tipo permissivo, uma vez que
imaginaram estar diante de um confronto com criminosos armados que estariam
colocando suas vidas em risco”.
Familiares das vítimas não aceitam a decisão. O pai de Pedro Henrique
disse que a decisão foi "desapropriada", já que eles acreditam que os
agentes atiraram no intuito de matar.
A decisão do delegado retira a atribuição da investigação da Polícia
Civil e encaminha o caso, como Inquérito Policial Militar (IPM), para o
comando-geral da instituição no Ceará. No documento, o delegado aponta ainda o
cenário de violência pública existente em Hidrolândia, após disputa entre duas
facções criminosas atuantes no município.
No último dia 11, o promotor de Justiça Militar, Sebastião Brasilino de
Freitas Filho, do Ministério Público do Ceará (MPCE), apresentou um pedido de
prisão preventiva contra os dois policiais envolvidos no caso.
Cirurgia - Pedro Henrique fez uma cirurgia em 10 de
julho. Para o pai, a vida do filho não será mais a mesma devido à perda da
visão causada pelos tiros da polícia.
Além dos três feridos, no carro também estavam duas mulheres, entre
elas uma gestante de gêmeos, irmã do garoto e mulher do universitário. Elas não
foram atingidas. As vítimas foram socorridas para um hospital da cidade.
Os três atingidos sobreviveram. Segundo um parente do outro jovem,
atingido na coluna, havia a preocupação de que ele perdesse os movimentos da
perna, mas que já foi descartada pelos médicos.
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