Ministério Público do Ceará recorreu da decisão, mas o TJCE
negou o recurso - CGD e Polícia Militar dizem que não tinham conhecimento do
caso
Uma prisão em flagrante de um homem por tráfico de drogas e posse
irregular de arma de fogo, no Município de Boa Viagem, teve uma reviravolta. Em
razão de ilegalidade das provas, o juiz do 1º Grau inocentou o suspeito e
mandou soltá-lo, decisão que foi confirmada no 2º Grau. A Justiça Estadual
ainda determinou que a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de
Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) investigue os policiais
militares por suspeita de forjar o flagrante.
Emanoel Fillipe Farias de Sousa, hoje com 24 anos, foi preso na noite de 11
de setembro de 2019, após denúncia anônima de que ele e a esposa praticavam
tráfico de drogas, segundo a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE).
Uma equipe do Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e
Ostensivas (BPRaio), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), abordou o suspeito na
rua, na posse de R$ 950 em espécie, e se encaminhou para a residência de
Emanoel.
No imóvel, os PMs apreenderam 50 trouxinhas de cocaína e um revólver
calibre 38, com cinco munições. Três policiais militares conduziram o suspeito
e o material apreendido à delegacia: o
cabo Francisco Jefferson Lúcio Lima e os soldados Carlos Janael Sousa Gomes e
Francisco Domberto Sabino Mendes. Segundo a defesa de Emanoel Fillipe, os
agentes de segurança agiram com abuso de autoridade, arrombaram o cadeado da
porta da residência do suspeito e ainda o torturaram, além de implantar a droga
no imóvel.
Quase um ano e dois meses depois da prisão, Emanoel foi solto da Casa
de Privação Provisória de Liberdade Professor José Jucá Neto (CPPL III), em
Itaitinga, em 6 de novembro de 2020, após a 2ª Vara da Comarca de Boa Viagem
inocentá-lo e determinar a soltura, em 29 de outubro do ano passado, ocasião em
que também determinou que a CGD investigasse os militares.
Há fortes evidências de que, dadas as circunstâncias da abordagem,
tanto o acusado, como a sua esposa, não autorizaram o ingresso dos policiais em
sua residência, sendo certo ainda que esta foi a única circunstância que
viabilizou aos policiais encontrarem os ilícitos.
Entretanto, a CGD informou que "não chegou ao conhecimento deste
Órgão qualquer denúncia sobre o fato, como também não foi notificada pela
Justiça. Entretanto, a Controladoria determinou apuração do episódio narrado e,
caso seja identificada transgressão disciplinar, instaurará de imediato
procedimento administrativo".
PMS ROUBARAM OBJETOS PESSOAIS,
DIZ FAMÍLIA DE JOVEM - Após a
prisão, a família de Emanoel Fillipe Farias de Sousa sentiu falta de alguns
objetos pessoais do jovem: duas pulseiras de prata, um cordão de prata, um
relógio, um perfume importado, roupas e tênis. Entretanto, o material não
constava como objeto de apreensão, no Auto de Prisão em Flagrante registrado na
delegacia da Polícia Civil.
Familiares de Emanoel começaram a investigar por conta própria o
destino dos objetos pessoais. E encontraram, através de ofertas nas redes
sociais, um homem que comprou um cordão de prata de um policial militar do
BPRaio. A mãe de Emanoel, Eunice Farias, gravou um vídeo em que um homem assume
a negociação.
POLICIAL FOI INVESTIGADO POR
OUTRO CASO DE TORTURA - Um dos
três policiais militares que participaram da abordagem a Emanoel Fillipe Farias
de Sousa, o cabo Francisco Jefferson Lúcio Lima foi investigado em um Inquérito
Policial Militar (IPM), junto de mais três PMs, por participar de outra
abordagem onde teria ocorrido tortura, também em Boa Viagem. Entretanto, o
oficial encarregado do IPM concluiu, em abril deste ano, que "não há
indícios de cometimento de crime militar e na mesma linha de pensamento,
considerar que não há indícios de transgressão disciplinar". A
investigação foi enviada à Justiça Estadual, que ainda não se posicionou.
Conforme o Inquérito, uma mulher denunciou à Delegacia Municipal de Boa
Viagem, da Polícia Civil, que, em 21 de junho de 2019, policiais militares
ingressaram na sua residência perguntando se tinha droga no local, mas não
encontraram. Insatisfeitos, os PMs ordenaram que a mãe dela e três crianças
saíssem e teriam algemado os braços e amarrado as pernas da mulher, perguntando
por entorpecentes. Depois, eles arremessaram spray de pimenta no rosto dela e
até realizaram uma prática de simular afogamento, cobrindo o rosto da mulher
com um pano e jogando água. Ela desmaiou e precisou ser socorrida por
familiares ao hospital.
Ao ser interrogado no IPM, Francisco Jefferson alegou que não atendeu
essa ocorrência nem nunca viu a mulher que denunciou o caso e contou que passou
o dia em uma ocorrência de roubo a motocicleta, na localidade de Piedade.
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