segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

MP denuncia PMs por executar bandido desarmado e tentar matar comparsa no litoral de SP

Ministério Público havia arquivado a investigação por entender que os policiais haviam atirado em legítima defesa, mas decidiu, no começo do mês, reabrir o caso após a corregedoria identificar, com base nas imagens captadas pelas câmeras operacionais dos agentes, ilegalidades nas ações

Kaique foi morto mesmo sem estar armado e oferecer resistência

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) decidiu reabrir uma investigação e denunciar quatro policiais militares de Guarujá, no litoral de São Paulo, por executar um bandido desarmado, tentar matar um comparsa dele, fazer uso indevido das câmeras operacionais para tentar evitar a produção de provas, a fim de simular uma legítima defesa.
Essa é uma reviravolta no caso. Em 25 de junho deste ano, o MPSP havia arquivado o processo por considerar que os PMs agiram em legítima defesa, após atenderem uma ocorrência de roubo a uma casa em Bertioga, no litoral de São Paulo, em 15 de junho, que terminou em perseguição e morte em Guarujá. Dos três bandidos, apenas um não saiu ferido. Dos comparsas, um foi executado e o outro baleado, sem oferecer resistência.
O curso da história mudou quando a Corregedoria da Polícia Militar resolveu investigar a ação dos policiais, e encontrou uma série de ilegalidades cometidas pelos agentes, com auxílio das imagens registradas pelas câmeras operacionais que carregam no corpo.
Quando inocentou os policiais, o MPSP não tinha tido acesso às imagens das câmeras, que ao serem analisadas, revelaram, segundo a Corregedoria e nova denúncia do Ministério Público, a execução de Kaique de Souza Passos, que faria 25 anos no último domingo (11). Ele foi morto com sete tiros, mesmo após ter aparecido nas imagens com os braços erguidos, em sinal de rendição.
Ainda de acordo com a corregedoria, os policiais, no momento dos disparos, obstruíram as lentes das câmeras e simularam uma eventual agressão de Kaique, que sequer estava armado. Ao final, segundo a acusação, um simulacro [arma de brinquedo] teria sido colocado em posse do bandido.
Antes da morte de Kaique, os PMs haviam rendido um dos bandidos, de 33 anos, em uma passarela - este foi preso sem ferimentos.
Entretanto, um outro envolvido no assalto à casa em Bertioga, de 19 anos, que havia sido atingido por um disparo durante a perseguição, e abordado sem oferecer resistência, foi baleado novamente por um dos PMs no peito.
A situação, conforme o MPSP, é investigada como tentativa de homicídio. Durante a ação, para evitar registrar o disparo, um dos policiais presentes na abordagem correu em direção oposta aos fatos.

Policial civil Eduardo Diogo Cardoso Brazzolin foi morto por um PM em frente ao DP Sede de Guarujá

Envolvidos na morte de um policial - Dois dos PMs envolvidos na execução e tentativa de homicídio acima estavam presentes em uma discussão com o policial civil, Eduardo Antonio Brazzolin, de 65 anos, que foi morto em frente à Delegacia Sede de Guarujá, no litoral de São Paulo, na madrugada de 28 de fevereiro deste ano.
Na ocasião, Brazzolin havia ido à delegacia com um dos filhos para interceder na prisão de um amigo do rapaz, que havia sido conduzido ao DP Sede pelos policiais militares sob a alegação de estar armado e fazendo gestos obscenos na direção da viatura.
A época dos fatos, o filho de Brazzolin, negou a versão dos PMs. Ele havia contado que os policiais estavam passando a todo momento em frente a um restaurante em que estava com o amigo, e que ambos decidiram deixar o local, cada um em um veículo.
Naquele momento, segundo o rapaz, os dois foram abordados. Ele contou que os agentes, ao tomarem conhecimento de que era filho de Brazzolin, ameaçaram o pai dele de morte. Na sequência prenderam o amigo e o conduziram à delegacia.
Quando soube pelo filho o que havia ocorrido, o policial civil se deslocou ao DP, onde, de acordo com o filho, começou uma discussão, que resultou na morte de Brazzolin.

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