Egídio Neto, de 56 anos, passou a ostentar vida de luxo na
última década, com 29 imóveis, carros, adega com bebidas caras e até custeando
faculdade de Medicina, segundo o MP
Padre Egídio, preso em João Pessoa (PB), suspeito de ter
feito desvios milionários em instituição filantrópica
"Uma espécie de farra com o dinheiro público", definiu a promotoria do Ministério Público da Paraíba, em trecho da
denúncia apresentada contra o padre Egídio
de Carvalho Neto, de 56 anos. O ex-presidente do Instituto São José,
responsável por gerir o Hospital Padre Zé, em João Pessoa (PB), está preso,
acusado de ter chefiado um esquema de desvio e lavagem de dinheiro público por
pelo menos dez anos à frente da instituição filantrópica. Enquanto a unidade de
saúde operava com dificuldades e acumulava cada vez mais dívidas, deixando
desamparados pacientes em situação de vulnerabilidade, o líder religioso teria tocado um gabinete de corrupção que lhe
garantiu uma vida de luxo e ostentação.
Nesta sexta-feira, o religioso teve a prisão preventiva mantida após
audiência de custódia e seguiu para a Penitenciária Especial do Valentina de
Figueiredo. As investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) elencam que o padre, durante todo este período:
- Adquiriu 29 imóveis
luxuosos, em estados como Paraíba, Pernambuco e São Paulo.
- Investiu em projetos
de reforma e arquitetônicos.
- Quitou dívidas com
dinheiro do instituto.
- Comprou ao menos dois
carros considerados de alto padrão.
- Fez questão de
mobiliar suas casas com obras de arte e relíquias religiosas que eram
adquiridas em nome do hospital.
- Esbanjava adegas com
um "sem número" de bebidas alcoólicas, com média de R$ 1 mil cada.
- Pagou a faculdade de
Medicina do sobrinho em São Paulo, com mensalidades de R$ 13 mil.
- Levava uma vida
incompatível com o salário de cerca de R$ 15 mil. Elevou seu rendimento mensal
médio para R$ 140 mil.
Desvio de R$ 363 mil em aparelhos para tratamento de Covid-19
Um dos episódios que
mais chamaram atenção dos promotores teria acontecido em 2021, em plena
pandemia da Covid-19. Uma auditoria feita recentemente pela atual gestão do
Hospital Padre Zé descobriu que Egídio teria autorizado a compra de 38
monitores multiparamétricos — essenciais para o tratamento de pessoas com
Síndrome Respiratória Aguda Grave —, no valor de R$ 363,9 mil, com recursos
adquiridos por meio de convênio com a prefeitura de João Pessoa.
Os aparelhos, que
tratariam pacientes pobres com Covid-19, nunca teriam sido entregues.
Adegas gourmet - As investigações também
apontam a obsessão do religioso por colecionar bebidas alcoólicas de luxo. A
promotoria narra que, na casa de Egídio, encontraram adegas gourmet contendo
garrafas de vinhos, espumantes e champanhes.
Apenas entre 2022 e 2023, o levantamento aponta que o padre teria pago mais
de R$ 120 mil em bebidas alcoólicas, sempre à mesma distribuidora. Uma perícia
no celular do religioso mostrou que ele tinha como um dos contatos salvos uma
"consultora de vinhos", com quem conversava com frequência.
Artigos de luxo - A denúncia aponta
também gastos elevados com a obtenção de obras de arte e relíquias religiosas
"de elevados valores". Estima-se que, entre 2022 e 2023, Egídio tenha
desviado cerca de R$ 350 mil com este tipo de item. Tudo saía da conta da Ação
Social Arquidiocesana (ASA).
Em um único ateliê, ele teria autorizado a compra de R$ 80,4 mil em
quadros. No entanto, em visita às dependências do Hospital Padre Zé, os
promotores acharam apenas 11 peças, incompatíveis com o valor.
Faculdade do sobrinho - As investigações
apontam ainda que, embora a renda mensal de Egídio não ultrapasse os R$ 16 mil,
há indícios de que ele pagava o curso de Medicina do sobrinho, na Universidade
Cidade de São Paulo (Unicid), cuja mensalidade cobrada por mês era de cerca de
R$ 13 mil. Em perícia no celular do padre, os investigadores encontraram uma
conversa, onde o jovem pergunta ao tio: "Conseguiu pagar o boleto deste
mês?", e ele responde que "sim". Para comprovar que de fato o
garoto não teria condições de arcar com os valores daquela faculdade, o Gaeco
apurou que, em 2020, o rapaz era beneficiário do auxílio emergencial do governo
federal.
Conforme a investigação do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime
Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba, as verbas desviadas
seriam destinadas a programas sociais como distribuição de refeições a
moradores de rua, amparo a famílias refugiadas da Venezuela, apoio a pacientes
em pós-alta hospitalar, realização de cursos profissionalizantes, preparação de
alunos para o Exame Nacional de Ensino Médio e cuidados a pacientes com Aids.
Os desvios, segundo o órgão acusador, teriam comprometido gravemente o
atendimento prestado pelo Hospital Padre Zé às populações carentes e
necessitadas. Em nota, a Arquidiocese da Paraíba informou que colabora
"integralmente com as investigações em curso, respeitando o segredo de
justiça estabelecido pelas autoridades competentes". E acrescentou que
padre Egídio tem advogado próprio, sendo ele responsável pela defesa e
interesses de seu cliente.
A Arquidiocese da Paraíba disse ainda que um processo Canônico foi
instaurado em 27 de setembro deste ano "e está seguindo seus trâmites
normais".
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