Gabriel tinha seis anos e era autista não-verbal - Ele morreu após atendimento em um hospital particular no Interior do Ceará
Os pais do menino acreditam que houve negligência e uma
sucessão de erros
As circunstâncias acerca da morte de Gabriel Pinheiro
Miranda, de seis anos, são investigadas pela Polícia Civil
do Ceará (PCCE). A criança morreu horas após dar entrada em um hospital particular na cidade de Iguatu,
Interior do Estado: "meu filho
entrou andando e saiu em um saco plástico preto", diz Lucinda
Pinheiro, mãe do menino.
Desde o dia 25 de setembro de 2024, a família de Gabriel busca explicações e
entender o que aconteceu para que o quadro de saúde dele evoluísse com piora
significativa em poucas horas e o menino morresse enquanto aguardava
transferência para um hospital de maior porte, em Fortaleza.
Lucinda e Geilson Miranda acreditam
que houve uma sucessão de erros dos profissionais de saúde que atenderam o
filho. O advogado Filipe Brayan, que representa a família, aponta na notícia-crime enviada ao delegado de
Iguatu que "há diversos comportamentos questionáveis de toda atuação
médica que possivelmente podem ter contribuído para o falecimento do
Gabriel".
A acusação pediu à Polícia no último da 21 de novembro a oitiva de três
médicos, três enfermeiros, dois fisioterapeutas e três técnicas de enfermagem
que atenderam a criança em pouco menos de 24 horas, período que o menino esteve
internado, além do acesso à cópia das filmagens realizadas pelas câmeras de
segurança do local e todos os registros sobre o atendimento.
O nome da unidade e dos profissionais
envolvidos no atendimento de Gabriel são resguardados neste momento, já que a
investigação está no início.
O caso está a cargo da Delegacia Regional de Iguatu, unidade que realiza
diligências e oitivas com o intuito de elucidar os fatos.
Os fatos relatados por Geilson e Lucinda, pais do Gabriel, foram informados ao
delegado de Iguatu, que, ao analisar os fatos, identificou indícios de crime e
decidiu instaurar um inquérito policial para apurar o caso.
Gabriel completaria sete anos neste mês de dezembro
TRÊS CONVULSÕES ATÉ RECEBER MEDICAÇÃO - A família conta que no dia 24 de setembro de 2024, Gabriel, autista
não-verbal, sinalizou 'uma tontura' e 'moleza'. A mãe, preocupada com a
situação, conversou com o esposo e decidiram levar o menino ao hospital.
Lucinda Miranda - Chegaram na unidade por
volta das 15h30. Gabriel não tinha febre, mas segundo Lucinda a médica sugeriu
colocar febre no prontuário para que o plano de saúde agilizasse a autorização
dos exames. Assim foi feito.
O resultado dos exames saiu em poucas horas e foi detectada uma provável
bactéria. Conforme a notícia-crime, a médica responsável pelo primeiro
atendimento decidiu dar início à administração de medicamento antibiótico.
O menino permaneceu no hospital e, após a troca de plantão, uma segunda
médica teria decidido que ele ficasse internado, sob observação naquela noite.
"Às 00h20, Gabriel sofreu a primeira convulsão. Quando a médica
chegou, o episódio já havia cessado. Ainda assim, a profissional não tomou
nenhuma providência, justificando que era necessário haver três convulsões para
a administração do medicamento. Após a segunda convulsão, a conduta dos profissionais
permaneceu a mesma, sem qualquer procedimento em relação à convulsão. Somente
na terceira convulsão a médica medicou o garoto com o medicamento
midazolam"
Trecho da notícia-crime - Lucinda diz que a
médica já olhava para Gabriel "com
um jeito de nojo". Geilson diz que enquanto o filho convulsionava
chegou a "ver uma enfermeira em uma
videochamada perguntando a outro profissional como era que entubava".
"Somente às 8h, uma equipe médica com um pediatra esteve presente, e
Gabriel foi transferido para a UTI. Mais tarde, suspeitou-se de um tumor. Os
pais passaram o dia todo tentando a transferência para outro hospital, mas
enfrentaram dificuldades", segundo trecho do documento.
TENTATIVA DE REANIMAÇÃO - Horas depois uma
ambulância chegou para levar Gabriel quando, supostamente, ele seria
transferido até Fortaleza. Os pais dizem ter recebido informação que o
transporte até a capital cearense, que seria aéreo, não estava pronto, e
Gabriel foi mantido dentro da ambulância para retornar ao hospital em Iguatu.
"Em determinado momento um dos aparelhos ligados a Gabriel começou a
apitar, mas a enfermeira não sabia o que se tratava e ainda assim resolveu
mexer, momento em que os batimentos do Gabriel começaram a descer e o médico
foi chamado. O médico, ao chegar na ambulância, informou que a adrenalina que
estava sendo injetada no Gabriel havia saído e começou a proceder com a
reanimação. Apesar das tentativas de
reanimação, o garoto faleceu por volta das 1h40 da manhã, sem sequer ser
retirado da ambulância".
Trecho da notícia-crime - A mãe do menino se
queixa que o filho e a família foram vítimas de "muita negligência": "deixaram meu filho morrer na minha
frente e eu não pude fazer nada. Eu implorava por ajuda e nada faziam".
"Não foi tumor no cérebro, não
foi meningite. Consta no laudo que foi uma pequena infecção viral. Eram
para ter chamado um médico mais experiente, nós precisamos saber o que
aconteceu. Ninguém nos ajudou e ainda mexeram alterando o prontuário", dizem os pais de Gabriel.
O advogado da família destaca a importância de uma apuração rigorosa na
fase de inquérito e que a família está em posse de documentos que devem passar
por perícia.
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