A apuração aponta que o parlamentar cearense teria “papel
central” no esquema
O prefeito foragido Bebeto Queiroz e seu padrinho político, o
deputado federal Júnior Mano
O deputado federal cearense Júnior Mano (PSB) está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) pelo suposto
envolvimento em um esquema de manipulação eleitoral que teria atuado em 51
municípios do Ceará no ano passado. O político é apontado como tendo um “papel central” na destinação de emendas
parlamentares para uso ilegal dos recursos.
Por conta da suspeita de envolvimento do político, que tem foro privilegiado, o
caso foi alçado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e distribuído para o gabinete
do ministro Gilmar Mendes. A defesa
do deputado diz confiar que a inocência do político será provada nas
investigações.
Além do parlamentar, a PF aponta um dos principais aliados do político no
Ceará, o prefeito eleito de Choró, Carlos
Alberto Queiroz Pereira (PSB), o Bebeto Queiroz, como o líder da
organização criminosa que usava os recursos das emendas para lavar dinheiro por
meio de empresas de fachada e comprar votos durante o período de campanha
eleitoral.
Da denúncia à investigação - A investigação que chegou até Júnior Mano partiu de uma denúncia feita
pela agora ex-prefeita de Canindé, Maria do Rosário Araújo Pedrosa Ximenes
(Republicanos). Em depoimento ao Ministério Público do Ceará (MPCE) ainda
durante a campanha eleitoral do ano passado, ela disse que, além de Bebeto, a
irmã dele, Cleidiane de Queiroz Pereira, e o vigia e suposto empresário
Maurício Gomes integravam uma rede criminosa que operava por meio de ameaças a
adversários e ofertas de "vantagens materiais e financeiras a eleitores em
troca de votos". Segundo Maria do Rosário, que denunciou o esquema, a
atuação do grupo chegou a 51 municípios e teria movimentado um montante de até
R$ 58 milhões para fins ilícitos.
Como funcionava o esquema - De acordo com a denunciante, a base do esquema era o repasse de emendas
parlamentares do deputado Júnior Mano para municípios cearenses. Na hora da
seleção de quais empresas iriam executar o serviço com os recursos, Bebeto
Queiroz e um grupo de empresários ofereciam valores para que os outros
concorrentes saíssem do processo licitatório e as empresas do grupo deles
fossem beneficiadas.
Ainda no relato da ex-prefeita, no pregão eletrônico, eles colocavam duas
ou três empresas, sempre com o menor preço, mas não executavam o serviço para
que foram contratados e, com isso, ficavam extorquindo mais valores para
concluir as obras.
A ex-mandatária listou,
na investigação, que Bebeto teria tentado influenciar no resultado eleitoral
das cidades de Madalena, Quixadá, Boa Viagem, Aquiraz, Itaitinga, Canindé e São
Gonçalo do Amarante. A empresa central apontada pela ex-prefeita para operar o
esquema criminoso, segundo a prefeita, é a MK Serviços, Construções e
Transporte Escolar.
A MK, inclusive, tem como sócio-administrador o suposto empresário Maurício
Gomes. O vigilante de 37 anos recebe um salário mensal de R$ 2,4 mil, mas abriu
a empresa que tem um capital social de R$ 8,5 milhões. No relatório, a PF diz
ser “possível inferir, com forte grau de segurança" que o vigilante atuava
como "interposto de terceiros", um laranja de Bebeto Queiroz.
Além das cidades citadas pela ex-prefeita, os investigadores identificaram
contratos da empresa para prestação de serviços com os municípios de Acopiara, Alto Santo, Amontada,
Apuiarés, Aracati, Aratuba, Barreira, Baturité, Camocim, Caridade, Choró,
Coreaú, Farias Brito, General Sampaio, Guaiuba, Guaraciaba do Norte,
Ibicuitinga, Independência, Iracema, Irauçuba, Itapajé, Itapipoca, Itatira,
Juazeiro do Norte, Maracanaú, Massapê, Milagres, Mombaça, Nova Russas, Pacajus, Parambu, Paraipaba, Paramoti, Pedra
Branca, Quiterianópolis, Quixeramobim, Russas, Saboeiro, Sobral, Tejuçuoca e Viçosa do Ceará.
O paradeiro de Bebeto - Eleito com 5,9 mil
votos na eleição do ano passado, Bebeto Queiroz foi alvo de uma operação da PF
no último dia 4 de outubro. Na ocasião, os agentes apreenderam R$ 600 mil com
indivíduo vinculado a grupo que atuava nas cidades de Fortaleza, Canindé e
Choró.
Em 22 de novembro, foi a vez do Ministério Público do Ceará (MPCE) sair às ruas
para investigar suspeitas de irregularidades em contratos feitos pela
Prefeitura de Choró. À época, o prefeito eleito Bebeto Queiroz foi considerado
foragido pela Justiça, mas se entregou à Polícia Civil no dia seguinte. Ele
chegou a ficar 10 dias detido, mas foi liberado.
No entanto, no dia 5 de dezembro, o político voltou a ser alvo da operação Vis
Occulta, um desdobramento da operação Mercato Clauso. Bebeto não foi localizado pelos agentes federais, portanto, é
considerado foragido.
Sob risco de ser preso, em 1º de janeiro, Bebeto Queiroz não compareceu à
cerimônia de posse em Choró. O vice-prefeito Bruno Jucá Bandeira, do PRD,
também não foi empossado. A cerimônia contou com a presença de oficial de
Justiça que cumpriu determinação expedida pela 6ª Zona Eleitoral de Quixadá.
Quem atualmente comanda o município interinamente é o vereador Paulo George
Saraiva, o 'Paulinho', do PSB.
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