Álvaro Malaquias Santa Rosa é alvo de 79 inquéritos e 26
processos, mas nunca foi preso
Peixão é apontado como um dos chefes da facção criminosa
Terceiro Comando Puro
Uma operação conjunta
das polícias Civil e Militar demoliu imóveis de luxo do traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o
"Peixão", no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio de Janeiro,
nesta terça-feira (11). Entre os alvos da ação está um resort mantido pelo
suspeito no bairro carioca Parada de Lucas.
"Peixão" é apontado como
um dos chefes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), que age dentro e
fora dos presídios do Estado. Segundo a
Polícia, o traficante tem mais de 10 mandados de prisão expedidos contra ele e
está foragido.
O traficante acumula imóveis de luxo, entre eles o chamado "resort green", um amplo espaço com
piscinas e um lago para a criação de carpas coloridas. Na mansão de "Peixão", funciona também uma
academia de ginástica completa, com equipamentos modernos.
Conforme a Delegacia de Repressão a Entorpecentes, responsável pela
investigação, o imóvel foi construído com dinheiro ilícito e funciona também
como uma fortaleza do tráfico, armazenando armas e drogas. A academia de
ginástica, que já foi desmontada, funcionava como ponto de encontro da facção.
Ao ocupar o terreno, o traficante cometeu também crime ambiental, pois
construiu em uma área de proteção, segundo a Delegacia de Proteção ao Meio
Ambiente. Além de destruir uma extensa vegetação nativa, houve o desvio de um
curso de água para abastecer o lago dos peixes.
OPERAÇÃO - Na chegada ao complexo, por volta das
6 horas da manhã desta terça, os policiais foram recebidos a tiros. A Avenida
Brasil, uma das principais vias públicas do Rio, foi fechada preventivamente,
mas liberada logo após a passagem dos comboios policiais. A circulação de trens
na Supervia também chegou a ser suspensa entre Caxias e Penha. O serviço já foi
retomado.
Após ocupar o local, as equipes iniciaram o desmonte da academia e demais
instalações. "Peixão" não estava no imóvel, encontrado praticamente
vazio. As equipes iniciaram ainda a demolição das estruturas da mansão do
traficante.
QUEM É 'PEIXÃO' - Santa Rosa, o ‘Peixão’,
é atualmente o traficante mais procurado do Rio de Janeiro - ele nunca foi preso. Em fevereiro, as polícias realizaram uma
operação para prendê-lo, mas o suspeito conseguiu fugir. Durante o confronto,
um helicóptero da Polícia Militar foi alvejado com dois tiros e fez um pouso
forçado no Comando Naval da Marinha.
Até 2019, o líder do TCP comandava o tráfico nas favelas de Vigário Geral e
Parada de Lucas. Durante a pandemia de covid-19, ele expulsou rivais e ocupou
as favelas de Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau, até então dominadas pelo
Comando Vermelho, e construiu pontes sobre rios para facilitar a mobilidade
entre as cinco comunidades vizinhas. Com isso, ampliou seus domínios para
outras comunidades.
Autointitulado evangélico, em 2020 "Peixão" passou
a chamar de Complexo de Israel o conjunto de favelas que domina na zona norte
do Rio e a exigir de seus comparsas ser chamado de Aarão - segundo o Antigo
Testamento, nome de um irmão de Moisés que foi decisivo na libertação do povo
hebreu do Egito em direção à terra prometida.
Para demonstrar poder, "Peixão" instalou no
alto de uma caixa d’água, na Cidade Alta, uma estrela de Davi, que para os
judeus significa um símbolo de proteção contra o mal, visível a quilômetros de
distância. Os comparsas dele usam um uniforme semelhante ao do exército de
Israel.
Em 2021, em Parada de Lucas, a polícia chegou a uma mansão que seria do
traficante e tinha, em um muro do quintal, um desenho de parte de Jerusalém,
incluindo o Domo da Rocha, um santuário islâmico. Tido como autoritário e
vingativo, ele se tornou conhecido por impor seu domínio baseado no chamado
fundamentalismo evangélico, expulsando praticantes de religiões afro-brasileiras
dessas áreas.
Nas comunidades, Santa Rosa se apresenta como líder religioso. No ano
passado, "Peixão" foi condenado pela Justiça por ter ordenado a
destruição de templos de religião de matriz africana na Baixada Fluminense. Sua
defesa recorreu. "Peixão" tem atualmente cerca de dez ordens de
prisão pendentes, segundo a Polícia Civil, e é alvo de 79 inquéritos e 26
processos, mas nunca foi preso.
No ano passado, ele foi acusado de terrorismo pela Polícia Civil do Rio,
após supostamente ter ordenado que seus subordinados atirassem a esmo contra
pessoas para desviar a atenção da polícia, que estava perto de capturá-lo,
durante operação em 24 de outubro que terminou com dois mortos e quatro
feridos.
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