Acusado de liderar rede que direcionava recursos públicos
para compra de votos, político é procurado pela PF desde dezembro
Diplomado por procuração, Bebeto Queiroz não pôde tomar posse
por força de determinação judicial
Mesmo após três meses, o prefeito eleito de Choró, Bebeto
Queiroz (PSB), ainda não foi localizado pela Polícia Federal (PF). Considerado foragido, após se tornar alvo de um mandado de prisão
preventiva na Operação Vis Occulta, deflagrada em dezembro do ano passado, ele
é acusado de envolvimento em um esquema de corrupção pelo desvio de recursos de
emendas parlamentares para compra de votos em cidades no Ceará.
Ao que apontou a investigação da PF, foram realizadas dezenas de transferências
de recursos financeiros para eleitores e candidatos, tanto por Bebeto como por
aliados. Os investigadores indicaram que o prefeito eleito cometeu abuso de
poder econômico, que a rede criminosa chegou a envolver um oficial da Polícia
Rodoviária Estadual (PRE) e que a estratégia teria participação de um deputado federal, o Júnior Mano (PSB).
O parlamentar nega envolvimento.
O gestor eleito do município da região do Sertão Central seria o líder de um
esquema de “caixa dois”, envolvendo
contratos públicos direcionados para empresas vinculadas à organização
criminosa. Como contrapartida, os recursos públicos provenientes dos repasses
do Congresso eram destinados ao financiamento ilícito das campanhas eleitorais
em cidades cearenses.
Mais de 50 municípios - Os investigadores lançaram luz na MK Serviços,
Construções e Transporte Escolar, que seria usada para desviar o dinheiro
público. O volume de contratos da empresa envolvida, cujo principal serviço foi
o transporte escolar, chegou a R$ 318,9 milhões, segundo as investigações, e
implicam mais de 50 municípios. As informações fazem parte de um relatório da
Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), feito a partir das
ações da PF.
A investigação partiu de uma denúncia feita pela então prefeita de Canindé,
Rosário Ximenes (Republicanos). Em depoimento ao Ministério Público do Ceará
(MPCE), ainda durante a campanha eleitoral do ano passado, ela disse que, além
de Bebeto, a irmã dele, Cleidiane de Queiroz Pereira, e o vigia e suposto
empresário Maurício Gomes Coelho teriam atuado para tentar influenciar o
resultado eleitoral nas cidades de Madalena, Quixadá, Boa Viagem, Aquiraz,
Itaitinga, Canindé e São Gonçalo do Amarante.
Além das cidades citadas pela ex-prefeita, os investigadores identificaram
contratos da empresa para prestação de serviços com os municípios de Acopiara, Alto Santo, Amontada,
Apuiarés, Aracati, Aratuba, Barreira, Baturité, Camocim, Caridade, Choró,
Coreaú, Farias Brito, General Sampaio, Guaiúba, Guaraciaba do Norte,
Ibicuitinga, Independência, Iracema, Irauçuba, Itapajé, Itapipoca, Itatira,
Juazeiro do Norte, Maracanaú, Massapê, Milagres, Mombaça, Nova Russas, Pacajus, Parambu, Paraipaba, Paramoti, Pedra
Branca, Quiterianópolis, Quixeramobim, Russas, Saboeiro, Sobral, Tejuçuoca e Viçosa do Ceará.
Prisão e diplomação - Desde que começou a ser
investigado pelas denúncias de cometer crimes com o uso de dinheiro público,
Bebeto foi preso temporariamente no dia 23 de novembro, mas foi solto com o
término do mandado de prisão, que tinha validade de dez dias. Naquela ocasião,
ele havia sido alvo da Ad Manus, uma operação realizada pelo MPCE, Polícia
Civil do Ceará (PCCE) e PF para combater irregularidades em contratos do
Município de Choró.
Ele chegou a ser diplomado, por meio de uma procuração para o seu filho.
Mas, em janeiro, no âmbito da Justiça Eleitoral, a 6ª Zona Eleitoral de Quixadá
determinou que a chapa eleita de Choró, composta por Bebeto e pelo
vice-prefeito Bruno Jucá (PRD), não fosse empossada.
O MPCE havia pedido a cassação do registro de candidatura, alegando que
ambos os políticos foram beneficiados por práticas que iam contra a legislação
eleitoral.
Atualmente, quem responde pela prefeitura de Choró é o presidente do
Legislativo municipal, Paulo George Saraiva (PSB), o “Paulinho”. Ele foi
empossado no início do ano, no lugar da chapa eleita.
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