Construção foi erguida para servir de depósito, cozinha e local de repouso durante as horas de trabalho - A edificação simples atrai a curiosidade de quem passa por perto, no município de Irauçuba
'Casinha' construída entre pedras chama atenção no distrito
de Missi, em Irauçuba
É uma casinha muito
engraçada: tem teto, tem porta e tem armadores de redes pendurados entre as
duas rochas gigantes que servem de paredes. A casinha em questão existe, e foi
erguida entre duas pedras na localidade do Firino, no distrito de Missi,
município de Irauçuba, em pleno sertão cearense.
A pequena construção foi levantada há cerca de 4 anos pelo agricultor Valdir Magalhães, de 58 anos, em um
terreno que pertence à família dele. O local não é a casa onde Valdir mora, mas
uma espécie de quarto e depósito que ele utiliza diariamente.
Antes de erguer o local, Valdir guardava suas ferramentas de trabalho na casa
do pai, que também é agricultor. Ele teve a ideia de construir a casinha perto
da roça onde trabalha para evitar acordar o pai muito cedo, além de ter um
espaço onde pudesse cozinhar, armar uma rede e descansar.
"Como eu trabalho lá, aí pra não
chegar lá de manhã perturbando o meu pai, veio na cabeça construir um quarto lá
pra mim guardar minhas ferramentas de trabalho. É foice, enxada, chibanca,
alavanca, machado. É a ferramenta de quem trabalha na agricultura mesmo".
A verdadeira casa de Valdir, onde mora com sua família, fica na mesma região,
também no distrito de Missi, mas está a 2 quilômetros do local onde trabalha.
Por isso, a construção entre pedras serviu para economizar deslocamentos, além
de servir de ponto de apoio.
A casinha chama atenção de quem passa na estrada de terra próximo. Conforme seu
Valdir, é comum pessoas de fora pararem para bater foto da construção e, se o
encontram, perguntarem de onde surgiu a ideia para levantar o imóvel ali.
Cercada por vegetação da caatiga, 'casinha' construída tem
mudança de cenário na quadra chuvosa do Ceará
Entre duas pedras - Uma solução econômica > O agricultor Valdir Magalhães conta que já tinha usado o espaço entre as
pedras parar criar animais, mas com o tempo pensou em aproveitar a condição
natural para construir o "quartinho",
como chama o local.
A construção é de taipa, portanto, feita essencialmente de madeira, barro e
cimento. O local possui um cômodo só, mas é grande o bastante para "armar três redes", nas palavras de
Valdir. Por lá, ele também construiu um fogão a lenha.
'Casinha' construída entre pedras chama atenção em Irauçuba
"Eu trabalho e
guardo os ferros lá. Eu às vezes passo o dia por lá, eu cozinho lá porque tem
um fogãozinho a lenha. Aí quando eu estou com preguiça de ir na rua [na área urbana da cidade], que é pra
almoçar em casa, eu faço uma comidazinha lá, e levo uma rede, armo lá, me deito
um pedaço enquanto chega a hora de eu voltar de novo [ao trabalho]".
Além da localização chamativa, entre duas pedras, e do bom uso no trabalho, a
casinha conta com uma boa vista: ela fica de frente para um açude. Assim, por
vezes, Valdir utiliza o local para descansar com familiares.
"Aqui é um lugar muito calmo, não tem problema nenhum, a gente dorme lá à
vontade, é assim, afastado da rua, longe da rua, mas não tem perigo não, é um
lugar bom. Eu já dormi lá, faço almoço lá, já passei o dia todinho lá, vou com
a mulher pra lá, nós passamos o dia".
Na estação seca, a vegetação da caatinga nos arredores da
'casinha' assume outra tonalidade
Terra de pedras e algodão - O distrito de Missi, em Irauçuba, é conhecido na região pela ocorrência
de grandes formações rochosas. Muitas das rochas são conhecidas da população
por apelidos, como a Pedra do Viola e a Pedra do Coração.
A história do lugar também está intimamente relacionada à produção de
algodão, que já foi um dos principais produtos de exportação do Ceará. Irauçuba
era uma das grandes produtoras da fibra, chamada pelos agricultores locais de
"ouro branco".
O produto era tão importante que faz parte do brasão de Irauçuba, que se
tornou município em 1957. Entre as décadas de 1980 e 1990, a praga do
bicudo-do-algodoeiro devastou as plantações de algodão no Ceará, e encerrou a
era do "ouro branco" em
Irauçuba.
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