Faltavam dois minutos para as 22h
(horário local) do dia 28 de novembro de 2016 quando o voo 2933 da empresa
boliviana LaMia caiu no morro El Gordo, a 35 quilômetros do aeroporto de
Medellin, na Colômbia. A bordo, estavam 77 passageiros de um voo contratado
pela Associação Chapecoense de Futebol, o clube de Chapecó (SC). A equipe do
interior do estado catarinense acabava de realizar uma façanha: ia disputar a
final da Copa Sul Americana contra o Atlético Nacional, de Medellin. A partida
seria disputada no dia seguinte, no primeiro jogo pelo título.
A alegria dos jogadores, da
comissão técnica, e dos jornalistas a bordo deu lugar ao horror. Na escuridão
da noite o avião bateu de barriga no alto do morro, capotou e se despedaçou
encosta a baixo, deixando um rastro de destruição.
Quando as equipes dos bombeiros
voluntários da cidade de La Unión conseguiram chegar ao local quase uma hora
depois, apenas sete pessoas ainda estava vivas. Três eram jogadores do time: o
goleiro Jackson Follman, o zagueiro Helio Zampier Neto e o lateral Alan
Ruschel. Dos 20 jornalistas, apenas o locutor da Radio Oeste de Chapecó, Rafael
Renzi, estava vivo. Os outros dois sobreviventes eram tripulantes: a comissária
de bordo Ximena Suárez e o técnico de voo Erwin Tumiri.
Um piloto perdido - Minutos antes
da queda, o piloto Miguel Quiroga avisou a torre de controle do aeroporto de
Rionegro que estava com problemas elétricos e pediu as coordenadas para um
pouso de emergência. O avião estava a menos de cinco minutos da cabeceira da
pista, mas no dramático diálogo com a torre ficou gravada a desorientação de
Quiroga. Ele parecia não saber ao certo sua posição e não entendia as
instruções da controladora Yaneth Molina que, por sua vez, não conseguia ver a
aeronave no radar. Quando finalmente Quiroga admitiu que estava sem combustível,
a torre perdeu o contato.
Avisada por moradores que ouviram
o barulho da queda, a Polícia Nacional da Colômbia acionou o modesto grupamento
de bombeiros voluntários de La Unión que, em pouco mais de meia hora,
conseguiram chegar ao Cerro El Gordo e iniciaram a busca por sobreviventes.
Os jogadores que sobreviveram - O
goleiro Jackson Follman, primeiro sobrevivente a ser resgatado dos escombros,
não se lembra exatamente o que aconteceu. Tudo que ele recorda é que estava
sentado perto dos três companheiros que sobreviveram com ele, o zagueiro Neto,
o lateral Alan e o jornalista Rafael Renzi e todos estavam conversando
animadamente. Então as luzes da cabine se apagaram e ele desmaiou.
Follman costuma dizer, em
entrevistas, que se deu conta de que o avião tinha caído quando voltou a si na
escuridão total, no meio dos destroços. O lateral Alan Ruschel também estava
muito ferido e foi levado ao hospital de caminhonete, por dois moradores de La
Unión. Embora estivesse consciente o tempo todo, Alan tinha um problema grave:
uma fratura na coluna que poderia deixá-lo tetraplégico. Mas, nas horas
seguintes, os médicos do Hospital San Vicente descartaram o risco.
O zagueiro Helio Neto ficou sete
horas nos escombros e foi o último a ser resgatado. Os socorristas já tinham
desistido de encontrar mais sobreviventes quando um deles ouviu gemidos e
voltou para localizar o chamado. No entanto, seu estado era tão crítico que os
médicos chegaram a prevenir seus familiares de que não alimentassem muitas
esperanças.
E um time que ressuscitou - Quando
a notícia chegou a Chapecó, já na madrugada do dia 29, os 200 mil habitantes
foram sendo despertados pelos relatos da tragédia e a cidade mergulhou na dor e
no luto. Do sonho de uma conquista esportiva para o pesadelo inimaginável: os
chapecoenses tinham perdido seus jogadores, seus dirigentes e jornalistas que
relatariam a vitória tão esperada. E só havia um lugar onde eles queriam estar:
a Arena Condá, o estádio do clube.
O luto de Chapecó se espalhou
pelo Brasil e o mundo. Nas redes sociais, torcedores de equipes adversárias
começaram a pintar de verde os distintivos de seus próprios times e a frase:
“Somos Chape”. Era o início da reação para reconstruir o sonho e o time.
Virada - A Chapecoense já não
tinha mais um time titular para entrar em campo, uma vez que quase todos os
jogadores morreram no acidente. Nem uma comissão técnica, nem mesmo o
presidente do clube, que morreu no acidente. Mas ali, na Arena Condá, estavam
os jogadores que não tinham viajado para a Colômbia. Neles, a torcida enxergava
a esperança de um recomeço para formar o novo time para a temporada de 2017.
O troféu de Campeão Sul
Americano, entregue à Chapecoense pela Conmebol depois que o Atlético Nacional
decidiu abrir mão do título, não era apenas simbólico. O prêmio pelo título foi
de US$ 2 milhões e a vaga na Recopa rendeu mais US$ 1 milhão. Por ser campeã
sul americana, a Chape garantiu também vaga na Libertadores e mais US$ 1,8 mil
pelos três jogos como mandante de campo.
Com as finanças reforçadas, o
clube reconstruiu o time e conquistou o título do campeonato catarinense de
2017. E mesmo depois de ter tropeçado na série A do Brasileirão, a Chape
conseguiu escapar do rebaixamento e continuará em 2018 na principal divisão do
futebol profissional brasileiro.
Uma das maiores emoções vividas
pelo time e sua torcida depois da tragédia foi em agosto deste ano, quando a
equipe pisou no gramado do Nou Camp em Barcelona para um amistoso contra o time
da casa, recebendo a homenagem de um estádio lotado. As imagens dos jogadores
mortos foram projetadas no telão e o ex-goleiro Follman, agora embaixador do
clube, e o zagueiro Helio, deram o chute inicial da partida.
Entre os jogadores escalados para
a partida, estava Alan Ruschel, que os médicos colombianos temiam que não
voltasse a andar. Ele saiu de campo após 35 minutos de jogo, com a camisa
assinada por Messi e a homenagem da torcida. Em Chapecó, o grito da torcida
voltou a ecoar: “O campeão voltou!”.
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