
Reunidos sob a sombra
de um pé de cajarana, os participantes trocam experiências, falam da vida no
sertão, dos anos secos
As observações de agricultores
sobre a natureza, plantas, pássaros, insetos, floração de árvores, estrelas,
lua e vento podem indicar características da quadra chuvosa que se aproxima no
Ceará. No sítio Aroeiras, em Guassussê, na zona rural de Orós, um grupo de
agricultores participou do Encontro dos Guardadores de Experiências Populares
de Chuva e de Sementes no Sertão. A maioria revela a crença em mais um ano de
reduzidas chuvas e de inverno tardio.
Reunidos sob a sombra de um pé de
cajarana, os participantes trocam experiências, falam da vida no sertão, dos
anos secos, das dificuldades sem água. "Chuva mesmo para encher açude só
em 2020", avisa o agricultor, Francisco Vítor de Araújo, 68. "Neste
ano, será mais uma vez fraco, inverno irregular e fino".
Um dos mais experientes
observadores, o agricultor aposentado Antônio Alcântara, 84, mostrou-se
preocupado. "Queira Deus que eu esteja enganado, mas será um inverno
irregular", afirma. "O vento Aracati veio tarde e falhou".
O temor de mais um ano de chuvas
abaixo da média instala-se entre os participantes, mas alguns mantêm a fé de
que as coisas vão melhorar depois de seis anos seguidos de chuva irregulares e
abaixo da média, com perda sucessiva das reservas hídricas.
O posicionamento da estrela
Dalva, em janeiro, o nascer da primeira lua cheia do ano, acompanhada ou não de
nuvens, o surgimento do sol, a ocorrência de chuva ou não em dias santos, a
regularidade do vento Aracati, que sopra do mar para o sertão entre setembro e
dezembro, o posicionamento do ninho do João de Barro e do enxu de abelha. Tudo
isso faz parte das observações dos profetas da chuva.
A iniciativa do encontro é do
projeto Sertão Vivo e tem por objetivo manter a tradição, a memória dos
antepassados que costumavam fazer previsões acerca do inverno. Neste ano, foi a
9ª edição, que reuniu um maior número de participantes. O músico Zé Vicente,
que mantém o projeto Sertão Vivo com encontros de agricultores, promovendo a
arte e a cultura, diz que o encontro dos agricultores visa à manutenção da
memória dos ancestrais.
No sítio Aroeira, o Encontro dos
Guardadores de Experiências Populares de Chuva e de Sementes no Sertão, é
realizado sempre no Dia de Reis.
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