Oito detentos foram indiciados pela matança. A menina que levou as armas foi ouvida e liberada. Segundo o delegado, ela deve responder ato infracional pela participação
Uma adolescente, de idade não
revelada, foi a responsável por levar e entregar "em mãos" a um
detento as armas usadas na chacina em Itapajé, na última segunda-feira (29). Na
ação, dez presos foram assassinados a tiros por outros internos.
Segundo o delegado da cidade,
André Firmino, a menina é a companheira de um dos prisioneiros que arquitetou a
ação. O policial civil reconheceu que as facções envolvidas na barbárie foram
as mesmas que executaram as 14 pessoas no massacre das Cajazeiras, no último
sábado (27), na maior chacina da história do Ceará. Contudo, descartou que haja
relação entre os dois crimes.
Superlotação acirrou tensão - Conforme
o delegado, a superlotação na unidade prisional acirrou o conflito entre as
duas organizações criminosas de tal forma que resultou na matança. Havia 84
presos, divididos em cinco celas, onde deveriam estar 40 pessoas, no máximo.
Para reforçar a tese da guerra interna, Firmino revelou ainda que as mortes no
município poderiam ter ocorrido na sexta-feira (26), antes mesmo da série de
mortes no Forró do Gago, em Fortaleza.
Segundo ele, a adolescente foi
coagida pelo parceiro a ir até um membro da facção e receber uma encomenda. No
“pacote”, envolto em um pano, estavam dois revólveres e cerca de 40 cápsulas
intactas. Na quinta-feira (25), ela tentou levar os materiais até a Cadeia
Pública, mas, quando chegou ao local, avistou carro de polícia e recuou. No
domingo (28), a garota voltou à unidade.
Armas entraram um dia antes do
crime - Após o jantar, por volta de 18 horas, a menina, que revelou a ação em
depoimento ao delegado, aproveitou o momento que o único agente penitenciário
trabalhando no local foi à sala de descanso e entregou as armas “em mãos a um
detento”. “Era um preso que tinha trânsito livre, ele ficava no ambiente de
entrada e na cozinha trabalhando para remir a pena, como prevê a Lei de Execução
Penal”, explicou Firmino.
Já em posse do pacote, os
internos de uma das facções planejaram a ação para a primeira oportunidade: o
banho de sol, no dia seguinte. Por volta de 8 horas de segunda-feira (29), o
delegado ouviu os disparos na Cadeia e chegando ao local os presos ainda
estavam em conflito. “Colocamos os internos nas celas, isolamos o local e
socorremos os feridos”. Na revista, as duas armas foram descobertas, além de 17
cápsulas intactas. Elas foram encaminhadas à Perícia.
De acordo com o delegado, foram
ouvidas 28 pessoas entre o dia do crime e a última quinta-feira (1º), entre
autores da chacina, sobreviventes e familiares. “Está delineado que foi um
conflito interno. E não houve qualquer envolvimento de agente públicos”. Após o
crime, 46 presos foram transferidos para complexos prisionais na Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF). Atualmente, há 23 pessoas na cadeia.
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