Tenente-coronel PM Wilson Melo
criticou a forma como os PMs estão sendo formados
Por ter publicado nas redes
sociais um artigo em que chamou a atenção sobre a formação profissional dos
policiais militares cearenses, e, especialmente, a questão do uso de armas,
após mais uma abordagem desastrosa que causou a morte de uma cidadã, em
Fortaleza, um oficial da PM foi punido. Acabou eliminado do quadro de
instrutores da Academia Estadual da Segurança Pública (Aesp).
O militar punido é um dos
oficiais mais preparados da Polícia Militar do Ceará. Trata-se do tenente-coronel
Wilson Melo, instrutor de tiro, especialista em policiamento de Choque, além de
autor de dezenas de artigos, pesquisas científicas, monografias e livros
publicados acerca do modelo de treinamento policial vigente no Brasil.
O artigo que gerou a punição do
oficial foi publicado por ele há duas semanas, logo após o episódio em
que PMs, numa abordagem desastrosa na Avenida Oliveira Paiva, no bairro
Cidade dos Funcionários, na zona Sul de Fortaleza, dispararam tiros de pistola
e carabinas com balas de calibre Ponto 40 (.40) contra um carro em movimento,
causando a morte da administradora de empresas e pedagoga Gisele Távora Araújo,
42 anos, mais uma cidadã inocente morta
pelas mãos do estado. Os Pms teriam confundido o carro de Gisele
com outro onde estariam assaltantes.
Nas redes sociais, o
tenente-coronel Wilson Melo ele informou, nesta tarde de sexta-feira (29) a
forma como recebeu a punição do estado:
“Amigos, desta vez escrevo
para informar que, por decisão arbitrária e pessoal do diretor da Academia
Estadual de Segurança Pública, sem qualquer justificativa, fui cortado da
relação de instrutores daquele centro de ensino dos órgãos de segurança
pública. A única justificativa possível talvez seja melindres por conta de meus
artigos e análises sobre os temas relacionados à formação e qualificação
policial. Não foi levado em consideração o fato de eu ser o instrutor com mais
tempo de experiência em atividade atualmente, meus trabalhos técnicos
publicados, as pesquisas científicas realizadas e todo o know how do qual sou
possuidor.
É muito triste e preocupante
constatar que os responsáveis pelos órgãos públicos em nosso estado não
conseguem conviver pacificamente com a crítica, mesmo esta não tendo sido
direcionada para uma entidade ou pessoa específica, mas tão somente para uma
situação real de todo o sistema de segurança público brasileiro, críticas que
apresentam o único objetivo de buscar aperfeiçoamentos e melhorias das
capacidades técnicas de nossos agentes públicos.
Resta-me apenas lamentar e torcer para que o
governador Camilo Santana, em sua próxima gestão, consiga achar para a Academia
Estadual de Segurança Pública a indicação de um diretor que esteja à altura de
sua importância social”. TC PMCE WILSON MELO
Leia, a seguir, o artigo que o
tenente-coronel Wilson Melo publicou logo após o episódio da morte da cidadã Gisele
Távora numa abordagem desastrosa de PMs, fato que acabou gerando a punição do
militar, através de sua exclusão dos quadros da Academia Estadual da Segurança
Pública do Estado do Ceará (Aesp):
“Como qualquer cidadão, e mais
ainda por ser policial militar e instrutor de tiro, fico terrivelmente
revoltado e decepcionado quando ocorrem fatos como este. A culpa maior por essa
morte descabida é exclusivamente do Estado.
Há anos que venho alertando para
a inadequação do atual modelo de treinamento policial vigente no país. Já são
dezenas de artigos, pesquisas científicas, monografias e livros publicados onde
alerto para a necessidade de atualização e adequação da metodologia de treinamento
dos agentes de segurança pública, principalmente nas disciplinas práticas de
tiro e técnicas policiais. Mas, infelizmente, não tenho tido voz por não fazer
parte da “equipe”.
Quantos mais casos como este
serão necessários para que os gestores abram os olhos? Quem será a próxima
vítima? Poderá ser uma pessoa da minha, ou da sua, família”.
TC PM WILSON MELO
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