Esquema contava com a participação de seis 'informantes', que eram usados para negociar com traficantes - Ministério Público denuncia 26 policiais por formação de quadrilha, extorsão e tortura
A denúncia do Ministério Público do Ceará (MP-CE) contra 26 policiais
civis, entre eles três delegados, aponta que três inspetores de Fortaleza, que
fazem parte da quadrilha formada pelos agentes, desviaram parte de uma
apreensão de entorpecentes e cobraram R$ 1 milhão a um suspeito de tráfico de
drogas para não prendê-lo. Valor que foi
repartido entre os policiais.
A informação consta no documento da investigação realizada pelo Grupo de
Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que está
dividido em 26 fatos, datados dos anos de 2016, 2017, 2018, ocorridos em
Fortaleza e na Região Metropolitana. A investigação durou pelo menos três anos.
O processo de 298 páginas é assinado por três promotores e traz detalhes do
esquema. Entre os crimes apontados pelo MP contra os agentes estão: extorsão,
tortura, tráfico de drogas, usurpação de função pública, abuso de autoridade e
favorecimento pessoal.
Traficante usado como
'informante' - Na denúncia do
MPCE consta que no dia 15 de junho de 2017 três inspetores da Polícia Civil, na
época lotados na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), abordaram o
traficante Weverton Moreira de Brito, conhecido como "Evim",
"Evinho" ou "Cabeludo".
Durante a ação, segundo o órgão ministerial, o suspeito foi encontrado com
determinada quantidade de droga, momento em que os policiais exigiram de
"Evim" diversas vantagens ilícitas, sob a ameaça de levá-lo preso.
"Exigiram da vítima diversas vantagens ilícitas que consistiam, além
de dinheiro em espécie e drogas, do levantamento e apontamento de 'serviços' e
abordagens que rendessem, da mesma forma, vantagens à equipe".
Após o acordo feito com os agentes, "Evim" foi liberado e
passou durante alguns dias informações e detalhes necessários para a abordagem
de Tenilson Lessa Lima Filho, mais conhecido como "Patrão" ou
"Jumento" e de seu comparsa Nickson Eliandro de Sousa Silva, que eram
os alvos que os policiais queriam capturar.
Conforme o Ministério Público, "Evim" chegou a encomendar 30 quilos
de drogas à dupla de criminosos. Os entorpecentes de "Evim" foram
apreendidos pelos inspetores, "como forma destes alcançarem o seu intento
criminoso final".
Na denúncia, o MP afirma que para despistar a origem da droga e assegurar a
operação, um dos inspetores, que é apontado como um dos líderes do esquema,
apresenta o material apreendido na delegacia especializada, porém com endereço
de um imóvel abandonado no Bairro Bom Jardim e com o produto pertencendo a uma
terceiro suspeito de nome "Naldinho".
Extorsão de R$ 1 milhão de
traficante - No dia 19 de junho
de 2017, de acordo com o Ministério Público, os traficantes "Patrão"
e Nickson são abordados pela equipe da Divisão de Combate ao Tráfico na posse
de mais de uma tonelada de maconha.
Ocasião em os três inspetores exigiram de Tenilson ("Patrão")
"a importância de um milhão de reais para livrá-lo da prisão em
flagrante".
"Com o acordo, Tenilson foi poupado e Nickson e a maior parte da droga
foram levados e apresentados na sede da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas
(DCTD)".
Parte da apreensão foi desviada para traficante - Segundo o Ministério Público, Weverton ("Evim"), traficante usado como "informante", chegou a receber 60 quilos de maconha e parte do dinheiro extorquido do "Patrão", como recompensa pela ajuda na apreensão da droga.
Inspetores criaram grupo para comemorar e negociar recebimento do
dinheiro de extorsão
Para o Ministério Público, as ações descobertas durante a investigação configuram a prática do crime de organização criminosa
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