sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Quadrilha formada por policiais civis cobrou R$ 1 milhão de traficante para não prendê-lo - Denuncia MPCE

Esquema contava com a participação de seis 'informantes', que eram usados para negociar com traficantes - Ministério Público denuncia 26 policiais por formação de quadrilha, extorsão e tortura

Operação da Polícia Federal serviu como base para investigação do Ministério Público que aponta quadrilha formada por policiais civis 

A denúncia do Ministério Público do Ceará (MP-CE) contra 26 policiais civis, entre eles três delegados, aponta que três inspetores de Fortaleza, que fazem parte da quadrilha formada pelos agentes, desviaram parte de uma apreensão de entorpecentes e cobraram R$ 1 milhão a um suspeito de tráfico de drogas para não prendê-lo. Valor que foi repartido entre os policiais.
A informação consta no documento da investigação realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que está dividido em 26 fatos, datados dos anos de 2016, 2017, 2018, ocorridos em Fortaleza e na Região Metropolitana. A investigação durou pelo menos três anos.
O processo de 298 páginas é assinado por três promotores e traz detalhes do esquema. Entre os crimes apontados pelo MP contra os agentes estão: extorsão, tortura, tráfico de drogas, usurpação de função pública, abuso de autoridade e favorecimento pessoal.

Traficante usado como 'informante' - Na denúncia do MPCE consta que no dia 15 de junho de 2017 três inspetores da Polícia Civil, na época lotados na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), abordaram o traficante Weverton Moreira de Brito, conhecido como "Evim", "Evinho" ou "Cabeludo".
Durante a ação, segundo o órgão ministerial, o suspeito foi encontrado com determinada quantidade de droga, momento em que os policiais exigiram de "Evim" diversas vantagens ilícitas, sob a ameaça de levá-lo preso.
"Exigiram da vítima diversas vantagens ilícitas que consistiam, além de dinheiro em espécie e drogas, do levantamento e apontamento de 'serviços' e abordagens que rendessem, da mesma forma, vantagens à equipe".
Após o acordo feito com os agentes, "Evim" foi liberado e passou durante alguns dias informações e detalhes necessários para a abordagem de Tenilson Lessa Lima Filho, mais conhecido como "Patrão" ou "Jumento" e de seu comparsa Nickson Eliandro de Sousa Silva, que eram os alvos que os policiais queriam capturar.
Conforme o Ministério Público, "Evim" chegou a encomendar 30 quilos de drogas à dupla de criminosos. Os entorpecentes de "Evim" foram apreendidos pelos inspetores, "como forma destes alcançarem o seu intento criminoso final".
Na denúncia, o MP afirma que para despistar a origem da droga e assegurar a operação, um dos inspetores, que é apontado como um dos líderes do esquema, apresenta o material apreendido na delegacia especializada, porém com endereço de um imóvel abandonado no Bairro Bom Jardim e com o produto pertencendo a uma terceiro suspeito de nome "Naldinho".

Extorsão de R$ 1 milhão de traficante - No dia 19 de junho de 2017, de acordo com o Ministério Público, os traficantes "Patrão" e Nickson são abordados pela equipe da Divisão de Combate ao Tráfico na posse de mais de uma tonelada de maconha.
Ocasião em os três inspetores exigiram de Tenilson ("Patrão") "a importância de um milhão de reais para livrá-lo da prisão em flagrante".
"Com o acordo, Tenilson foi poupado e Nickson e a maior parte da droga foram levados e apresentados na sede da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD)".

Parte da apreensão foi desviada para traficante - Segundo o Ministério Público, Weverton ("Evim"), traficante usado como "informante", chegou a receber 60 quilos de maconha e parte do dinheiro extorquido do "Patrão", como recompensa pela ajuda na apreensão da droga.

Inspetores criaram grupo para comemorar e negociar recebimento do dinheiro de extorsão

A denúncia do MP afirma que após as formalidades da apreensão da droga, os inspetores criaram um grupo no WhatsApp nomeado "T-FLY JEANS", onde os integrantes trocam mensagens de agradecimento e negociaram o recebimento do dinheiro.
"Na mensagem de abertura de tal grupo, um integrante diz: 'mais uma vez foi uma honra trabalhar com os senhores'. Logo em seguida, outro integrante lembra aos demais 'de apagar esse grupo e todas as conversas'".
No mesmo grupo, os agentes negociam como vão receber o dinheiro da extorsão de R$ 1 milhão contra "Patrão". 

Para o Ministério Público, as ações descobertas durante a investigação configuram a prática do crime de organização criminosa

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