terça-feira, 13 de maio de 2025

"Bonita demais" - Quem é a freira brasileira que perdeu cargo na Itália

Ex-madre-abdessa e natural do Amapá, Aline Ghammachi foi destituída do cargo após acusações de maus-tratos e desvios de recursos

A brasileira afirmou que vai buscar orientação em Deus e em advogados antes de decidir os próximos passos

Aline Pereira Ghammachi, uma freira brasileira nascida no Amapá e formada em administração de empresas, ganhou destaque na Itália ao se tornar, em 2018, a mais jovem regente de um convento no país, aos 34 anos. No entanto, sua trajetória como madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia teve um desfecho abrupto e controverso: ela foi afastada do cargo após denúncias anônimas e, segundo ela, por ser considerada "bonita demais".
A religiosa afirma que foi alvo de perseguição dentro do convento e que seu afastamento aconteceu em um contexto de disputas internas e inveja. "Frei Mauro Giuseppe Lepori dizia, mesmo em tom de brincadeira, que eu era bonita demais para ser freira ou abadessa. Mas isso me expôs ao ridículo". A decisão de destituí-la ocorreu no dia seguinte à morte do papa Francisco e à eleição de seu sucessor, Leão XIV.
Dois anos antes de sua destituição, Aline foi alvo de uma carta enviada por freiras ao papa Francisco, acusando-a de maus-tratos. As denúncias, inicialmente, foram desconsideradas, mas acabaram ressurgindo após mudanças internas na Igreja.
A freira relata que a situação se agravou durante a Semana Santa de 2025. “Na segunda-feira de Páscoa, fui dispensada. A decisão veio de repente e até agora não vi evidências de minhas falhas”.
Segundo Aline, quatro religiosas a acusaram de maus-tratos, o que levou à sua saída imediata do cargo. O ambiente no mosteiro ficou tão insustentável que, no dia seguinte, cinco freiras fugiram do local e buscaram abrigo em uma delegacia. Desde sua saída, outras freiras também abandonaram o mosteiro - 11 das 22 religiosas que viviam ali deixaram o local. Atualmente, a maioria das que permanecem são idosas, com mais de 80 anos.

Busca por justiça e nova etapa - A ex-madre-abadessa, que afirma ter sentido o chamado à vida religiosa desde os 15 anos, disse que agora busca orientação espiritual e jurídica para definir os próximos passos. "Rezo para que a verdade venha à tona, pelo amor de Deus e pela missão que desempenhamos".
Em comunicado oficial, o mosteiro afirmou que Aline tinha o direito de recorrer ao Dicastério contra o decreto que determinou sua saída. No entanto, segundo a Aliança Inter Monastérios, ela optou por apresentar uma queixa civil, embora ainda não tenha especificado contra quem ou com base em quais argumentos.

Trajetória da freira Aline - Filha de um casal de jornalistas do Amapá, Aline concluiu o curso de administração em 2005 e, pouco depois, mudou-se para a Itália para seguir a vida religiosa. Fluente em línguas, atuou como tradutora de documentos sigilosos e intérprete em eventos da Igreja antes de ser nomeada madre-abadessa.
Sua ascensão rápida e carisma chamaram atenção dentro da comunidade religiosa, mas também despertaram desconfortos e tensões - especialmente por sua aparência, que chegou a ser motivo de comentários depreciativos dentro do próprio clero.

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