Soldado relata que
foi mordido e teve ferimentos graves
Foram três minutos de tortura.
Com as mãos e os pés amarrados, o soldado de 20 anos do 27º Batalhão de
Infantaria Paraquedista que sonhava em seguir a carreira militar sofreu golpes
com pedaços de madeira, plásticos e fios. Na sequência, foi deitado em uma cama
e um cabo mordeu suas nádegas até sangrar e arrancar pedaços. O jovem teve um
testículo amputado por causa das agressões.
Em nota, o Comando Militar do
Leste do Exército informou que instaurou inquérito policial militar sobre o
caso e indiciou e expulsou até agora oito pessoas. Eles foram licenciados em 28
de fevereiro e não têm mais vínculo administrativo com a instituição.
Segundo o Comando Militar, a
sessão de tortura aconteceu no segundo andar do alojamento dos cabos, em
horário fora do expediente. Para que os golpes e os gritos do jovem não fossem
vistos nem ouvidos, os agressores fecharam janelas e cortinas. Um soldado que
estava com o rapaz, e que também seria torturado, teria desmaiado ao
testemunhar as agressões.
Os cabos mandaram que, no dia
seguinte, a vítima usasse roupas de mangas compridas e calças para que ninguém
visse as marcas. Mas, dois dias depois, por causa dos golpes nos testículos,
ele teve um órgão amputado - e o outro ficou comprometido. Após a operação, os
médicos informaram que o soldado não poderá mais saltar de paraquedas.
O caso aconteceu há dez meses,
mas apenas em fevereiro deste ano o soldado decidiu acionar a Justiça Federal
do Rio. A vítima mora na zona norte da cidade e preferiu não ter o nome
divulgado.
O soldado, que estava na Força
havia um ano e meio, entrou em licença médica para recuperação física e
psicológica. Ele pediu ao comandante para que fosse deslocado para outro grupo,
para não ter de conviver com os agressores, mas não foi atendido.
Denúncia - A Justiça Militar da
União recebeu denúncia feita pelo Ministério Público Militar em 14 de março. A
iniciativa desencadeou um processo em curso na Justiça Militar. Uma audiência
está agendada para o dia 10 de maio de 2017, segundo informou o Exército.
Em nota, o comando do 27º
Batalhão de Infantaria Paraquedista afirmou que adotou todas as medidas
administrativas e de apoio médico e psicológico. "Após a recuperação de
uma cirurgia a que foi submetido, na qual foi extraído um dos testículos, o
militar passou por uma inspeção de saúde, em 31 de agosto de 2016, recebendo o
parecer 'apto', visto que o fato não resulta em incapacidade definitiva para o
serviço do Exército. Entretanto, desde 21 de outubro de 2016, o soldado foi
afastado de suas atividades de trabalho para fins de tratamento
psicológico", informou o Exército.
O órgão também afirmou que
"rechaça veementemente a prática de maus-tratos ou de qualquer ato que
viole direitos fundamentais dos militares em treinamento e cursos de
formação".
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