quinta-feira, 4 de maio de 2017

Filho de PM pode ficar cego após ser atingido por bala de borracha em manifestação

Itamar, de 35 anos, pede que balas de borracha não sejam usadas em manifestações
Itamar, de 35 anos, pede que balas de borracha não sejam usadas em manifestações

Num leito no sexto andar do Hospital do Souza Aguiar, Itamar dos Santos ainda aguarda um prognóstico sobre a sua vista direita, "desorganizada", como explicaram médicos à família, depois de ser atingida em cheio por uma bala de borracha na manifestação da última sexta-feira, no Centro do Rio. Pego de surpresa pelo impacto que, num primeiro momento, pensou ser de um soco, não demorou a perceber que o golpe era mais duro do que imaginou. Com lesões gravíssimas no olho e fratura óssea no local, Itamar se agarra à fé por um milagre que o livre da cegueira.
O carpinteiro de 35 anos conta que bastou colocar os pés na Cinelândia para decidir ir embora do local, onde grupos tentavam se reunir para protestar contra as reformas do trabalho e Previdência. "Só pensava em sair", lembra. Segundo ele, havia muita fumaça vinda de um ônibus queimado nos arredores, além de uma multidão desesperada, fugindo de bombas de gás lacrimogênio. Com a estação do metrô da Carioca fechada, ele e os dois amigos que o acompanhavam partiram em busca de outra rota de fuga. Foi na Avenida Chile, na fração de segundo em que virou para procurar um deles, que a bala o acertou.

Tiro de borracha disparado pela PM atingiu olho de carpinteiro
Tiro de borracha disparado pela PM atingiu olho de carpinteiro

Itamar não foi a única vítima na última sexta-feira, no Rio. Nas redes sociais, manifestantes relataram momentos de terror durante ação da polícia no protesto: bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, balas de borracha e truculência atingiram a esmo quem passou pelo Centro. Ao menos nove pessoas chegaram a ser hospitalizadas por ferimentos causados pela PM.
Filho de um policial militar, Itamar se emociona ao falar dos agentes de segurança, colegas de profissão do seu pai. Ele não poupa críticas ao que considera ser um excesso de força dos policiais diante do que, segundo ele, era um protesto pacífico. Agora, quer que seu caso sirva de exemplo para que o uso de balas de borracha seja proibido. - Sinto muita tristeza, porque uma pessoa que age com essa violência só porque tem o poder, porque está com uma arma, faz esse tipo de coisa.

 
"Eu posso deitar aqui no meu travesseiro e ficar tranquilo, mas eles não devem dormir com essas barbaridades que fazem", diz o homem

Internado desde sexta-feira, o carpinteiro aguarda que o inchaço diminua para que especialistas possam avaliar a extensão dos danos causados e, enquanto espera, planeja o futuro em Portugal ao lado da esposa: o casal, que já queria deixar o Brasil por causa da profissão pouco reconhecida, da violência da cidade do Rio e das reformas trabalhista e da Previdência, agora tem o grave incidente como o ato final de sua relação com o país. - Naquele dia eu só queria sair da Cinelândia o mais rápido possível. Agora eu tenho mais pressa ainda para sair do Brasil. Em 2018, não vou ficar aqui de jeito nenhum - diz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário